Os mortos-vivos

A data de hoje lembra que devo render-me à pressão sócio-cultural das mídias e dedicar o meu dia a homenagear os parentes e amigos que já não convivem conosco, pelo menos fisicamente. Queria resistir a falácia de rememorar os falecidos entes queridos só neste dia. Recusar a insistente e escancarada propaganda do comércio de lembranças fúnebres é o que tento fazer,envolvido por dezenas de vendedores de velas, flores, incensos e santinhos. Cemitério, ante-sala do limbo etéreo da ignorância humana sobre o maior mistério da vida: a morte. A morte é a matéria prima das religiosidades, plasmada no medo do desconhecido, na infalibilidade do imponderável e na fé dos cultos e dos incultos.Ter fé e não ter religião seria o ideal pra se viver sem neuroses e em paz, como os animais... mas quem pode com isso? O maior dos ateus na hora da morte pede pelo amor dos deuses. Tudo é comércio, tudo é céu e inferno, tudo é religião, tudo é loteamento, tudo é rifa, tudo é milagre. Milagre dos homens. Viver sabendo que já se está morto e que tudo é uma questão de tempo. Viva os mortos-vivos!
Edmar Claudio
Enviado por Edmar Claudio em 02/11/2011
Reeditado em 02/11/2011
Código do texto: T3313193
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