Adeus, minha desconhecida
Não sei se tomou uma caixa inteira de calmantes ou se cortou os pulsos. Pode ser que tenha tomado veneno pra ratos, não sei. Soube da sua morte por um telefonema no meio de uma aula. A notícia, ao que me parece, não foi recebida por meus ouvidos, mas pelo meu estômago gelado. Perdi a reação, fiquei estático. Eu não a conhecia. Não sabia como eram seus olhos, a cor do seu cabelo ou o som da sua risada. Eu não sabia que ela existia, até que decidiu morrer. Eu não a conhecia, mas ela me marcou. Sua imagem indefinida,como que enevoada, não ficou na minha cabeça por um ou dois dias; permanece até hoje, anos depois. Eu não a conhecia, e ela se matou. Céus, e eu podia tê-la amado!
Mas não a julgo. Não a tomo por louca ou desequilibrada. Talvez corajosa. Isso, coragem com certeza ela tinha de sobra, e determinação também, afinal dar adeus à vida não deve ser uma tarefa fácil. Ah!, minha heroína que nunca vi, corajosa como só ela podia ser, matou quem a estava matando. Uma rebelde, revolucionária, não aceitou os desmandos da vida; ceifou-a. Mas eu não a conhecia. Me eram alheios seus sonhos e também seus pesadelos, suas dores e seus amores. Os amores. Ouvi boatos de que tudo não passou de uma paixão louca e de problemas de sobra. E pensar que morremos de amor todos os dias das nossas vidas. Ela não mais. Só espero que agora esteja bem.
Ah, minha amiga!, eu te amo tanto. E eu nem te conhecia...