MUDANÇAS
Assim que se mudaram para aquela casa, tudo parecia um sonho. Não a casa, mas a vida. Seria melhor, mais branda, menos espinhosa.
A primeira xícara de café na varanda, bem cedinho, ainda dava para sentir o ar mais fresco, quase molhado!
“Tudo seria diferente. Tudo seria melhor. Casa nova, vida nova”, pensou ela.
Mas quando se muda de casa levamos nossos móveis, nossas roupas, até as tralhas que deveríamos deixar para o lixeiro carregar, mas não, levamos tudo. Levamos a nossa vida, e tudo que ela tem. A casa nova não vai mudar muita coisa, só o espaço físico que se transforma, você não.
Ela pensou que tudo seria diferente. E foi no começo. Vizinhos novos, dificuldades com reformas, escola nova para os filhos. Distância maior para ir ao trabalho. Tudo era diferente mesmo.
Ela só não contava com ela mesma. A primeira xícara de café foi ótima, mas depois as outras se tornaram mornas, até não mais serem tomadas na varanda. Ficava restrita a sala, diante da janela, como uma prisioneira.
Ela não era uma prisoneira, mas se sentia como uma. A prisão sem grades é a pior. As grades estão na nossa imaginação. Imaginando se torna verdade. Já quase não aparecia na varanda, já não ia nem no quintal colher alguma fruta que caía uma vez ou outra de algum pé. Já não acariciava e nem brincava com os cachorros. Nem mais olhava ao seu redor. Faltava vontade de viver.
A falta de vontade de viver ela trouxe junto com as roupas, com os móveis, com tudo. Deveria ter deixado na outra casa, mas não, veio dentro de um pacote que foi o último a ser desembrulhado.
Agora tem uma casa para cuidar e uma vida para viver. “Grande coisa! Posso dar conta disso! A vida é minha, só eu posso modificá-la ou destruí-la. Eu não quero a destruição!Eu decido o que é melhor para mim! Sou a dona do meu destino!”
“Vou começar pela minha casa. Uma pintura nova, alguns móveis novos. Depois vou tratar melhor de mim. Preciso de um corte de cabelo novo, mudar o visual primeiro. Primeiro o externo que é mais fácil de se fazer. Depois o interno. Este requer mais tempo e mais disposição. Tenho agora um objetivo, tenho que me focar nele. É o melhor para mim. Desistir de tudo é vil se nem ao menos chegarmos a lutar. É perder tendo cem porcento de chances de ganhar. Isso não! Por hora, estou com um empate, mas pretendo virar esse jogo. Uma coisa eu tenho a meu favor: não sei lidar muito bem com perdas, portanto, aposto em mim desta vez.”