No meio do caminho tinha Drummond...

"Uma poesia marcada pelo ritmo de Minas Gerais, onde nasceu ouvindo o som do trem, ou, do Rio de Janeiro ouvindo a riqueza melódica da cidade. O apito do trem e o apito do samba fizeram este mineirinho-carioca reinar absoluto nos versos que fez. Ah! Você pode me lembrar que o Brasil é um celeiro de poetas por excelência, mas, hoje estamos comemorando o nascimento de Carlos Drummond! No meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho ou E agora, José?/ A festa acabou/ a luz apagou... Drummond escrevia sobre a morte como ninguém, mas não deixava de lado a sua veia humorística! Salve Poeta Carlos Drummond de Andrade! Salve! Salve!"

Ana Marly de Oliveira Jacobino

Filho do fazendeiro Carlos de Paula Andrade e D. Julieta Augusta Drummond de Andrade, nascido em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, a 31 de outubro de 1902, nunca foi dado aos cuidados da terra e desde muito cedo deu preferência às letras.

"O hábito de sofrer, que tanto me diverte / é doce herança itabirana. "

Memória_ Carlos Drummond De Andrade

Amar o perdido

deixa confundido

este coração.

Nada pode o olvido

contra o sem sentido

apelo do Não.

As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis

à palma da mão

Mas as coisas findas

muito mais que lindas,

essas ficarão

Alguma Poesia, seu primeiro livro, foi editado em 1930. Foram apenas 500 exemplares. Em 1931, morre seu pai, aos 70 anos. Três anos depois transferiu-se para o Rio de Janeiro e não mais voltou a sua cidade natal: "Itabira é apenas uma foto na parede / mas como dói!" O humor sempre o acompanhou mesmo falando de assuntos sérios como a morte:

"Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?"

Teus ombros suportam o mundo

e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios

provam apenas que a vida prossegue

e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,

preferiram (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.

Ouça Drummond contar um pouco sobre a sua poesia:

http://youtu.be/g4Zgl_Npk_4

Dados biográficos

Mas que dizer do poeta

Numa prova escolar?

Que ele é meio pateta

E não sabe rimar ?

Que veio de Itabira,

Terra longe e ferrosa ?

E que seu verso vira,

De vez em quando, prosa ?

Que é magro, calvo, sério

(na aparência ) e calado,

com algo de minério

não de todo britado?

Que encontrou no caminho

Uma pedra e, estacando,

Muito riso escarninho

O foi logo cercando?

Que apesar dos pesares

Conserva o bom-humor

Caça nuvens nos ares,

Crê no bem e no amor ?

Mas que dizer do poeta

Numa prova escolar

Em linguagem discreta

Que lhe saiba agradar?

Em 1928 publica na Revista Antropofagia, de São Paulo, o poema No meio do caminho, que se torna um verdadeiro escândalo literário. No mesmo ano nasce sua filha Maria Julieta. Filha única e sua grande paixão, Maria Julieta seria sua eterna musa, um verso meu, iluminando o meu nada, diria no poema A mesa. A cumplicidade entre os dois existia no mais singelo olhar e também na vocação. Escritora, Julieta jamais conseguiria destaque, pois o sobrenome famoso do pai a deixou em segundo plano.

Um pouco mais da sua poesia na voz de Tom Jobin:

http://youtu.be/1PoU8aVRRAI

Em 1982, Drummond completa 80 anos. Poucos são os poetas brasileiros igualmente longevos. Nenhum mais festejado. Pedro Nava, seu companheiro de geração, e poeta bissexto, o saúda: ”O nosso poeta Drummond foi e é senhor de escolher os seus caminhos”. Ele presenciou muitas homenagens nos seus 80 anos. Mas, algumas perdas o fizeram sofrer muito. Como a do próprio Nava e, sobretudo, a da filha única, Maria Julieta, que falece a 5 de agosto de 1987. E as 20 horas e quarenta e cinco minutos. O dia, 17 de agosto de 1987, uma segunda-feira. Na Unidade de Terapia Intensiva do segundo andar do ProCardíaco, no bairro carioca de Botafogo, na rua Mariana, Drummond morre, de mãos dadas com Lígia Fernandes, sua namorada de há longos anos.

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Carlos Drummond de Andrade - Biografia. Página visitada em 29/09/2008.

http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/carlos.htm

Palavra puxa palavra em C. D. de Andrade - Garcia, Othon Moacyr (1955), RJ.

A rima na poesia de C. D. Andrade - Martins, Hélcio (1968) - RJ.

Drummond: a estilística da repetição - Teles, Gilberto M. (1970) - RJ.

Drummond rima Itabira mundo - Moraes, Emanuel de (1971) - RJ.