O oficio do poeta
Tenho pensado no difícil oficio que escolhi para mim, o de escrevinhar a vida, pois “escrevê-la” não diz muito. Mas a minha vida a e vida dos homens e mulheres ao meu redor têm que ser escrevinhadas isto sim é o que dá voz ao que precisar ser dito e ao que não deve ser.
Mas este é um trabalho muito demorado e a demanda é maior que o tempo de nossas pequenas vidas. Como falar de tantas dores e amores? De tantas magoas e alegrias? De maldades e heroísmos? Como não compartilhar com meus iguais tudo isso? Meu oficio, disse uma amiga, era poetar.
E poetar então o que é? Porque nasci com os olhos do invisível voltados para dentro do outro e só assim consigo ver a mim mesmo? De onde vem esta literária mediunidade?E porque às vezes dói tanto esse transe se é ele mesmo que me consola que me mostra a beleza e a alegria de todas as coisas de todos os modos e sentidos?
Acho que as perguntas são melhores do que as respostas bem como vivê-las é melhor que perguntá-las. Quem convencerá o poeta imaginador de histórias, de alguma realidade? Ou que resposta não o lançará em outras perguntas ou em versos mais profundos? Este oficio fica maior a cada vez que eu escrevo alguma coisa,ele vai tomando conta de mim de modo que não sei mais quem sou ou quem é o poeta. E o mais estranho que eu vejo aquelas asas enormes rompendo nas minhas costas e parece que é normal e esperado, não lhe faço resistência.
Assim que este meu oficio depois de escolhido me escolheu e me deu asas. Agora só me resta à solidão das alturas do céu do coração das pessoas, escrevinhar de cima o que vejo de dentro para que as pessoas olhem para fora e se vejam de cima.