I ♥ alguém que não conheço
Aguardava ser atendida em uma loja de fotografias quando a garota ao meu lado estendeu sobre o balcão uma camiseta estampada com a frase “I ♥ Justin Bieber”. A adolescente tinha vindo reclamar do layout de seu amor anunciado pelo ídolo canadense, que não ficara à altura de seu sentimento.
Do lado, a mãe muda (mas de ouvidos atentos) assistia a atitude firme da filha e, certamente, pensava (assim como eu) o quanto a paixão pode transformar, de uma hora para outra, um adolescente em um protótipo adulto defensor de seus direitos “coracionais”.
Contudo, meu pensamento voou (tenho certeza) mais alto e mais distante do que o daquela mãe, e foi pousar bem na minha adolescência, quando também me apaixonei por um ídolo.
Diferentemente da fã apaixonada pelo cantor de sua idade, me apaixonei por um cara mais velho que não cantava, mas batia um bolão. Para dizer hoje o que me fascinou em Edinho (o jogador do Fluminense e da Seleção Brasileira) naquela época, preciso reativar o meu sensor de atração de adolescente. Então, saiba que Edinho tinha uma cabeleira de fazer enlouquecer qualquer menina; olhos puxados de fazer qualquer garota tremer; boca carnuda de fazer uma guria sonhar acordada e chorar sem sentir dor (já vou explicar esta parte); pernas firmes e roliças; etc.etc.etc. Ai, ai... Edinho era tudo para mim! Mesmo que eu nunca o tivesse visto de fato, nem falado tête-à-tête, sequer o tocado. Tanto, que chorei por ele.
...
Naquela ocasião, eu e mais duas amigas formávamos um trio inseparável, praticamente trigêmeas siamesas. Nossas personalidades eram tão parecidas, que nos apaixonávamos pelo mesmo cara sem que isto provocasse uma quebra irreparável da nossa amizade, pelo contrário, creio que disputar as mesmas paixões era mais um testemunho de nossa homogeneidade, uma vez que somos amigas até hoje.
No caso do meu idolatrado Edinho, tive que dividi-lo com apenas uma delas, pois a outra se apaixonara por Reinaldo, também jogador da seleção. Mesmo assim, era prudente saber qual das duas era a real merecedora do amor do cobiçado jogador. E como saber, uma vez que o coração não dá atestado de intensidade sentimental? Ora, como? Até aparece que você nunca foi adolescente! Chorando uééé!!
No quarto, trancafiadas a quatorze chaves para que nenhuma mãe enxerida atrapalhasse a prova decisiva, eu e minha amiga concorrente nos concentramos para o campeonato de lágrimas, enquanto a felizarda das três, que não dividia o craque Reinaldo com ninguém, fazia o papel de juíza. Um, dois, três... Cadê as lágrimas!!! Nenhuma gota sequer apontava a carinha no meu canal lacrimal, e eu estava prestes a perder Edinho para a amiga que já estava com olhos inundados. “Um minuto de intervalo meninas! Preciso ir ao banheiro.” Minutos depois volto para a prova cheirando a mentol, cânfora, óleo de eucalipto e com os olhos ardendo de tanto chorar. “Não vale! Usaste Vick Vaporub!!!”
Prova anulada! Resolvemos seguir assim, amando as duas o mesmo cara durante toda Copa do Mundo.
...
De volta a cena da loja de fotografias confesso que, no primeiro momento em que vi a menina apontando a falha no desenho da camiseta, pensei: “Como amor pode ser tão tolo às vezes, e a gente tão infantil ao ponto de senti-lo?”
Se apaixonar por quem nunca se viu, ou se viu foi só pela TV ou Webcam. Quem nunca se falou, ou se falou foi só por celular ou pelo áudio do computador. Quem nunca se tocou, ou se tocou foi só na fotografia ou na imagem da tela. Como alguém pode sonhar com alguém que, apesar de ser de carne osso, nunca se materializou em sua frente? Nunca transpirou, nem perfumou o ambiente. Nunca teve uma crise de riso, de choro, de tosse, ao seu lado. Nunca agarrou sua mão com toda força, nem trançou os dedos nos seus sobre o braço da poltrona do cinema, jamais lhe afagou os cabelos. Nunca apontou para que você visse uma figura engraçada, uma paisagem bonita, um pôr do sol deslumbrante. Como é possível amar alguém que não sabe qual a sua música preferida; o livro que acabou de ler; o nome do seu cachorro; o seu apelido; que você existe, adora poesia e escreveu um caderno inteiro sobre o amor de vocês dois. Como é possível amar o Pop Star que já namora a Selena Gomez?
Pelo mesmo motivo que amei a figurinha do álbum da Copa do Mundo: “Amar alguém é muito melhor do que não amar ninguém.”
A resposta me veio num segundo momento, quando tive um surto de sensibilidade pela causa da menina que amava Justin. Onde já se viu, vestir uma declaração de amor onde coração ficou rosa e não vermelho! “Pode ir tratando de estampar outra camiseta, moço!!!”
http://nasala-deespera.blogspot.com
www.maisacontece.com.br -
www.jornalenfoquepopular.com.br
Aguardava ser atendida em uma loja de fotografias quando a garota ao meu lado estendeu sobre o balcão uma camiseta estampada com a frase “I ♥ Justin Bieber”. A adolescente tinha vindo reclamar do layout de seu amor anunciado pelo ídolo canadense, que não ficara à altura de seu sentimento.
Do lado, a mãe muda (mas de ouvidos atentos) assistia a atitude firme da filha e, certamente, pensava (assim como eu) o quanto a paixão pode transformar, de uma hora para outra, um adolescente em um protótipo adulto defensor de seus direitos “coracionais”.
Contudo, meu pensamento voou (tenho certeza) mais alto e mais distante do que o daquela mãe, e foi pousar bem na minha adolescência, quando também me apaixonei por um ídolo.
Diferentemente da fã apaixonada pelo cantor de sua idade, me apaixonei por um cara mais velho que não cantava, mas batia um bolão. Para dizer hoje o que me fascinou em Edinho (o jogador do Fluminense e da Seleção Brasileira) naquela época, preciso reativar o meu sensor de atração de adolescente. Então, saiba que Edinho tinha uma cabeleira de fazer enlouquecer qualquer menina; olhos puxados de fazer qualquer garota tremer; boca carnuda de fazer uma guria sonhar acordada e chorar sem sentir dor (já vou explicar esta parte); pernas firmes e roliças; etc.etc.etc. Ai, ai... Edinho era tudo para mim! Mesmo que eu nunca o tivesse visto de fato, nem falado tête-à-tête, sequer o tocado. Tanto, que chorei por ele.
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Naquela ocasião, eu e mais duas amigas formávamos um trio inseparável, praticamente trigêmeas siamesas. Nossas personalidades eram tão parecidas, que nos apaixonávamos pelo mesmo cara sem que isto provocasse uma quebra irreparável da nossa amizade, pelo contrário, creio que disputar as mesmas paixões era mais um testemunho de nossa homogeneidade, uma vez que somos amigas até hoje.
No caso do meu idolatrado Edinho, tive que dividi-lo com apenas uma delas, pois a outra se apaixonara por Reinaldo, também jogador da seleção. Mesmo assim, era prudente saber qual das duas era a real merecedora do amor do cobiçado jogador. E como saber, uma vez que o coração não dá atestado de intensidade sentimental? Ora, como? Até aparece que você nunca foi adolescente! Chorando uééé!!
No quarto, trancafiadas a quatorze chaves para que nenhuma mãe enxerida atrapalhasse a prova decisiva, eu e minha amiga concorrente nos concentramos para o campeonato de lágrimas, enquanto a felizarda das três, que não dividia o craque Reinaldo com ninguém, fazia o papel de juíza. Um, dois, três... Cadê as lágrimas!!! Nenhuma gota sequer apontava a carinha no meu canal lacrimal, e eu estava prestes a perder Edinho para a amiga que já estava com olhos inundados. “Um minuto de intervalo meninas! Preciso ir ao banheiro.” Minutos depois volto para a prova cheirando a mentol, cânfora, óleo de eucalipto e com os olhos ardendo de tanto chorar. “Não vale! Usaste Vick Vaporub!!!”
Prova anulada! Resolvemos seguir assim, amando as duas o mesmo cara durante toda Copa do Mundo.
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De volta a cena da loja de fotografias confesso que, no primeiro momento em que vi a menina apontando a falha no desenho da camiseta, pensei: “Como amor pode ser tão tolo às vezes, e a gente tão infantil ao ponto de senti-lo?”
Se apaixonar por quem nunca se viu, ou se viu foi só pela TV ou Webcam. Quem nunca se falou, ou se falou foi só por celular ou pelo áudio do computador. Quem nunca se tocou, ou se tocou foi só na fotografia ou na imagem da tela. Como alguém pode sonhar com alguém que, apesar de ser de carne osso, nunca se materializou em sua frente? Nunca transpirou, nem perfumou o ambiente. Nunca teve uma crise de riso, de choro, de tosse, ao seu lado. Nunca agarrou sua mão com toda força, nem trançou os dedos nos seus sobre o braço da poltrona do cinema, jamais lhe afagou os cabelos. Nunca apontou para que você visse uma figura engraçada, uma paisagem bonita, um pôr do sol deslumbrante. Como é possível amar alguém que não sabe qual a sua música preferida; o livro que acabou de ler; o nome do seu cachorro; o seu apelido; que você existe, adora poesia e escreveu um caderno inteiro sobre o amor de vocês dois. Como é possível amar o Pop Star que já namora a Selena Gomez?
Pelo mesmo motivo que amei a figurinha do álbum da Copa do Mundo: “Amar alguém é muito melhor do que não amar ninguém.”
A resposta me veio num segundo momento, quando tive um surto de sensibilidade pela causa da menina que amava Justin. Onde já se viu, vestir uma declaração de amor onde coração ficou rosa e não vermelho! “Pode ir tratando de estampar outra camiseta, moço!!!”
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