GRATUIDADE

: “A gratuidade parece não fazer mais parte do cotidiano das pessoas. Em tudo o que se faz sempre se procura ter algum lucro ou o próprio bem-estar. A felicidade consiste em sermos gratuitos com os outros” (Liturgia Diária).

No Aurélio gratuidade é descrita como “qualidade do que é gratuito; feito ou dado de graça; desinteressado”. Esta explicação me levou a um outro questionamento relativo à palavra “graça”. No enfoque corriqueiro, se diz que uma coisa é de graça quando não se despende dinheiro para obtê-la. Do ponto de vista espiritual o significado nos remete à idéia de um presente divino. Em qualquer das duas interpretações a gratuidade, como descrita no dicionário, anda escassa neste mundo egoísta e descrente. Até a maternidade, que era tida como a maior aproximação humana do amor divino, tem sido, mostrada nos noticiários, sinônimo de abandono e desprendimento, sem vínculo mãe/filho. Quantas crianças foram colocadas no lixo e nas calçadas, ainda mesmo com o cordão umbilical?

Onde está a gratuidade daqueles que se candidatam a cargos públicos, supostamente para diminuir as agruras dos que não têm emprego, moradia e saúde? Quando mais alto eles vão, mais se esquecem do povo sofrido de onde vieram. Não melhoram as escolas públicas, nem os hospitais Preocupam-se apensas em conseguir gratuidades para seu próprio bolso. Ficam isentos de despesas, que nós mortais não podemos escapar, como moradia, viagens, carros, empregados, etc.

Antigamente era certa a macarronada nos almoços do fim de semana; ninguém se questionava quanto custaria ou quem pagaria por ela. A reunião familiar era sagrada, e a convivência gerava convivência que, por sua vez, criava o hábito de estar junto e apreciar a companhia, uns dos outros. Se alguém não comparecia, sentíamos sua falta e procurávamos saber a razão, telefonando ou indo até sua casa. Na minha infância não era macarronada o prato dos domingos; comíamos arroz, feijão, bife, e batata frita. A reunião era na casa da minha avó paterna. Estes almoços foram tão saborosos, que mamãe dizia que eu não comia durante a semana para só faze-lo nessas ocasiões. Podia chover ou fazer sol que íamos sem falta. Ainda sinto na memória o gostinho do feijão feito pela Jovita, a cozinheira dos tempos que meu pai ainda era solteiro.

Eu não lia jornal naquela época, mas acredito que as notícias eram melhores, a solidariedade humana era mais comum entre as pessoas, e não qualidade de um pequeno grupo dos santos.

A última frase foi quase um choque para mim: “A felicidade consiste em sermos gratuitos com os outros”. Que maravilha e quão distante isto está da nossa realidade. Por essa razão, hoje em dia, a felicidade é apenas para os poetas, em suas composições. Teoricamente todos conhecem o seu significado, mas pouquíssimos a vivem de fato. Gratuita com os outros era Madre Teresa de Calcutá. Também João Paulo II e Irmã Dulce na Bahia. Em todo século XX são os três que me vieram à memória, significando que a quantidade de pessoas altruístas é reduzidíssima.

Proponho que, por egoísmo e bem estar próprio, procuremos a nossa felicidade; sejamos disponíveis, gratuitamente, para os outros.

Petrópolis, 31 de outubro de 2011.

Gilda Porto
Enviado por Gilda Porto em 31/10/2011
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