Amor Platônico
Anêmico, esguio feito vara de bambu, amarelado como casca de melão. Para completar o espantalho assombrador de passarinho, usava um chapéu de couro dobrado na testa com uma estrela de frente e uma série de adornos em volta, com uma aparência tão grande com o Virgulino Ferreira, que o povo da chacota lhe chamava de “Lampião depois da Peste” a calça era um brim marron com tiras de piaçava dependuradas e, uma bota de couro de bico fino com uma placa de alumínio na ponta. Tinha dinheiro, tanto que nem sabia quanto. Juntara desde criança com o sonho de conhecer São Paulo e casar-se com uma loura do tipo que vira na televisão. Rapaz velho morando com os pais, decidira partir para a cidade arranjar namorada. Não sem antes a mãe lhe recomendar mil vezes que consultasse para tomar fortificantes e remédios para vermes. E os vizinhos fazerem alguns comentários na despedida, - feiúra não tem remédio, isso só não é mais feio por causa da bondade dos amigos. “-Ele não é feio é apenas mal arrumado, outros já amenizam inteirando que ele só tem uma beleza enrustida que um dia virá à tona”. Para sua tia-avó que segundo ele é caduca, os pais só não jogaram ele fora quando nasceu devido à insistência dela que era muito católica, acreditando que se Jesus transformou água em vinho poderia transformar aquilo em gente. Seu nome era uma homenagem dos pais ao ultimo Imperador do Brasil; Dom Pedro Segundo Aparecido da Silva. Após intensas horas de viagem chega finalmente à cidade, mala na mão e um embornal cruzado no peito, o mesmo vestuário exótico e uma cara que dizia explicitamente de onde vinha. Abordado por um taxista negociou a corrida para uma pensão que já trazia o endereço no bolso. Depois de alguns minutos o motorista para em frente a um prédio de mais ou menos três andares, fachada decorada com um beijo mosaico e um verde vessiê em toda a extensão restante. Algumas amendoeiras em fila se via no decorrer do passeio e dois pés de hibisco com poucas flores completavam o adorno. Ao lado da porta de entrada um barzinho com diversas mesas vermelhas de propaganda de refrigerante ao fundo uma grande mesa de bilhar com duas mulheres jogando sozinhas. Dom Pedro olhou de relance para os trajes de uma delas que era um pequeno short branco que ao debruçar-se para dar a tacada mostrava duas metades das nádegas avermelhadas e uma marca inconfundível de uma tanguinha preta. Imperador como foi alcunhado pelo recepcionista assim que terminou de assinar a ficha de admissão do hotel, mal tomou banho e voltou no rastro pensando naquela jogadora, ao passar pela recepção o atendente aconselhou; - Imperador tome com a mulherada daqui! Mas a fome de chamego ia além de qualquer conselho, se fosse no inferno travaria uma luta de peixeira com o dito cujo só para sentir o calor de uma mulher daquelas, ainda mais com uma pacoteira de dinheiro em cada bolso. No barzinho que estava um pouco mais cheio, infelizmente não se encontrava quem ele queria. Chateado, olhou para os lados sorrateiramente como quem não quer nada e pediu uma cana, ao virar goela abaixo uma mão lisa lhe apalpou por trás, de um salto feito gato escaldado ele se virou com aperreio, mas ao avistar a moça do short branco com sorriso maroto, mudou de idéia e quase pede outra pegada. Sorriu com seu amarelão peculiar e sentiu o coração batendo na boca, estava apaixonado. Paixão a primeira vista da parte dele. Ela só sorria. Pediu uma dose de whisk, o menu de petiscos e outra dose de whisk, sem dizer nada a ele. Após a terceira dose, ele pediu pausa para uma intimidade no quarto, ela aceitou e pediu a conta ainda sem dizer uma só palavra, ele estava apaixonado com um sorriso sem tranca. No final da noite voltou para o hotel bêbado e sem um centavo no bolso, mas sorridente e vitorioso, ao ser perguntado o motivo de tanta alegria, ele respondeu que conheceu a mulher mais linda do mundo que além de tudo que fizeram, deu a ele uma Igreja grande que fica na praça como presente por ele ser devoto do santo padroeiro de lá. Ao ser perguntado o que deu em troca, respondeu que a moça só pediu uma ajuda em dinheiro para comprar remédio para a mãe, mas o presente é de coração foi amor à primeira vista. Ao ver que o Imperador já era ronco, sua amada aparece e divide o lucro do golpe da noite com o recepcionista.