ERA UMA VEZ O SACI...
Qual o menino de hoje que conhece o Saci Pererê? Qual o adulto que se lembra dele? Pois hoje, 31 de outubro, é o dia dedicado ao Saci, um dos personagens mais populares do folclore brasileiro. Para infelicidade do negrinho de uma perna só, hoje também é o Dia das Bruxas, ou Halloween, uma festa típica do folclore dos países anglo-saxônicos, e mais especialmente dos Estados Unidos.
No Brasil, de algum tempo para cá, celebrar o Dia das Bruxas vem se tornando uma tradição, principalmente nas escolas. Eu mesmo não sei por que nem entendo como esse costume adpatou-se ao nosso calendário. Já temos de quase tudo enlatado em nossa cultura, da música à moda, do cinema à gastronomia. Até falamos uma língua elatada, o inglês, que nos é empurrado de goela abaixo, e com mais força ainda por conta da informática. Neste momento, suponho que no campo da eletrônica, a única palavra que falamos em português é computador; todo o resto da nomenclatura eletrônica vem do inglês.
E agora estamos também importando folclore. Um vez mais não sei por quê, pois temos uma grande variedade de folclore tipicamente brasileiro, com suas representações em cada região e em cada estado. A riqueza de costumes e lendas no Brasil é enorme, com raízes seculares. A lenda do Saci, por exemplo, data de fins do século dezoito e seu nome tem origem no Tupi Guarani, que, aliás, deveria ser essa a nossa segunda língua, ou mesmo a primeira. O nome Pererê tem ainda uma grande variação, como Cererê, Saçurá, Matimpererê e outros. “Diz a lenda que, se alguém jogar dentro do redemoinho um rosário de mato bento ou uma peneira, pode capturá-lo, e se conseguir sua carapuça, será recompensado com a realização de um desejo.”
Mas o Dia do Saci, antevejo que vai passar em branca nuvem. A carapuça vermelha e o cachimbo do negrinho travesso e brincalhão estão sendo vorazmente trocados pela vassoura e a roupa da bruxa. O sorriso moleque do Saci, também substituído pela risada horripilante da velha bruxa. Tal como o rostinho engraçado, que deu vez à cara devastadora do ser fantástico do mal.
O que me deixa mais triste e envergonhado é que o costume de celebrar o Dia das Bruxas está sendo implantado com mais vigor nas escolas. Extamente no ambiente onde o nosso folclore podia ter mais espaço para ser cultuado. Assim, vai caindo no esquecimento ameaçadoramente definitivo um elenco precioso do nosso folclore, dentre eles a Caipora, o Boi Tatá, a Mula sem Cabeça, a Iara, o Negrinho do Pastoreio, o Papa Figo, o Saci…
Segundo a lenda, o Saci costuma aparecer e desaparecer de uma hora para outra, como sempre brincalhão e traquina e com seu sorriso maroto. Mas quem quiser se divertir na festa do Halloween, é bom lembrar que a bruxa veste uma roupa imunda, costuma viver em ambientes úmidos e escuros, cercada de animais nojentos como baratas, cobras, escorpiões, ratos, morcegos, piolhos, carrapatos e vários tipos de mosquitos, como a mosca-varejeira, a muriçoca e os borrachudos…
E aí, vai de bruxa ou de Saci?