Dando a volta por cima.

DANDO A VOLTA POR CIMA. *

Ela é da terceira idade, é feliz e um exemplo de vida para muitas pessoas que são ingratas com a sorte. Passou dos 70 anos e não aparenta, pois reagiu às adversidades, tem a força dos vencedores, a humildade dos sábios e a perseverança dos bravos. È muito conhecida e estimada em Jarinu porem de seu passado poucos conhecem, o mesmo passado que para ela serve de parâmetro para ser grata no presente. Nem mesmo seus netos acreditam na sua historia de vida, acham que é exagero. Filha de andarilhos, caminhou ao lado dos pais e do irmão pelo litoral, grande São Paulo e interior. A família andava sem rumo e sem destino, o dia a dia era para andar e andar até que aparecesse um local para acampar e procurar ou pedir comida, a cama era feita de capim e as panelas eram latas que ficavam para trás após cada retirada. Lembra que por falta de sapatos quando tinha geada os pés trincavam por congelamento e se o frio era esporádico a fome era companheira constante. Certa vez caminhava por uma estrada junto com o irmão e famintos viram um caminhão passando carregado de pimentões, nesse momento pediu a Deus que lhe desse alguns e logo à frente um saco de pimentões caiu da carga. Comeram tanto e com tanta vontade que em seguida passaram por dores. Hora do banho era hora de procurar um rio. Aos 10 anos a família parou por um tempo em um local e o pai conseguiu algum dinheiro com pequenos serviços e foi então que ela conheceu pela primeira vez o gosto de macarrão. Sua mãe preparou macarrão e com direito a molho e o fato inédito merecia um clima de festa e por isso acharam necessário ter ao menos uma mesa e em um caixote de madeira colocaram pernas para improvisar uma mesinha. A mesa posta, antes de comerem, humildemente oraram a Deus agradecendo a iguaria e no meio da oração as pernas da mesa improvisada abriram, mas a comida não caiu. Veio o primeiro emprego aos 12 anos, por curto período, mas seguido de outros mais longos e em conseqüência sapatos, roupas e o inicio da dignidade. A família foi se estabelecendo e tudo começou a mudar. Após muitas historias eis que o destino a trouxe para nossa Jarinu, aqui ficou para sempre constituiu família e convive em nossa sociedade como se nada tivesse lhe acontecido. Esse passado nem suas amigas conheciam mas agora valorizaram sua pessoa. Essa mulher soube enfrentar as adversidades sem se corromper, sem furtar. Enfrentou as lutas diárias com firmeza, objetividade e esperança. De seu penoso passado tira comparações para agradecer o presente e por isso é feliz. È educativo ver uma pessoa vencer tão difícil batalha e valorizamos ainda mais o exemplo quando vemos pessoas que nasceram em famílias estruturadas e com boas condições financeiras e que vivem tristes e deprimidas muitas vezes por não poderem trocar o carro por um mais novo. A historia de vida dessa mulher, sua gratidão serve para que façamos um exame de consciência e prova que embora o ser humano seja produto das circunstancias o caráter é o dom que dá o rumo.

danilos
Enviado por danilos em 31/10/2011
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