Viajar é preciso

Uma viagem é sem dúvida sempre uma experiência maravilhosa e revitalizante. Um aprendizado novo a cada novo quilometro percorrido. Novo aprendizado, novos perfumes, sabores, silêncios, olhares... uma infinidade de sensações que principiam no olhar e terminam... no retorno para casa.

Exatamente por isso, um dias desses, imaginem, quis viajar também e ir para além do rotineiro roteiro já sabido de cor. Deixar o quotidiano esperar um pouquinho e ter saudades minhas, como um marido casado há vinte anos se vê seduzido a espiar a solteirice alheia, saindo um pouquinho do caminho de volta para casa com uns amigos sexta feira à noite, somente para conversar, comentar e distrair-se.

E assim, sem muito esforço, embarquei. Como um gatinho curioso desbravando uma bota tamanho quarenta e quatro cheia de surpresas escondidas pela penumbra, entre elas, ideias, formas, cores e águas.

Itália! Cheguei rapidamente e pego pelo estômago! Sabores de Sicília e de Sardenha... Sentidos no céu da boca. E tantos... Marguerita de Nápoles, cafés, queijos, vinhos, molhos e Monte Branco. Assim fui alto, fui ao mais alto do clima ameno e úmido, fui de alto à baixo da página dos sonetos metrificados.

Um belo país desenvolvido, belo berço Barroco, e belas artes construídas e esculpidas na alma de quem conhece. Ainda bem que segui viagem. Se quem tem boca, vai à Roma, eu fui também e despido de qualquer insegurança.

E lá tudo é divino. A comédia, o Coliseu a música que chamam língua, a melodia que chamam música e a população que fervilha, devota, sem rumos e encantadora. Passei páginas, dias, momentos de ida despreocupada, ficando despercebido, amplo, apaixonado, sem data para retorno.

Essa paixão fez-me esquecer da vida, horas à fio. Paixão que aperta, sufoca, enleva e faz tão bem quanto um encontro de lábios que se aguardavam há muito, entregues e trêmulos...

Até que voltei. Voltar também é preciso. Mas só voltei depois da última página. Livro acabado, pés no chão. O voo é curto, dura somente até a estante. Um instante. Cabeça ao travesseiro e a mente livre... Voltei. O que ficou foi o coração.

Crônica classficada no 5 premio UFF de Literatura com lançamento em Antologia em 05/12/2011