MI BUENOS AIRES QUERIDO!

O tempo passa tão ligeiro quanto o vento e segue seu rumo nos fazendo esquecer tantas coisas, tantas minúcias, aquele olhar significativo, aves que voam dando espetáculo, aviões cortando o céu, cães que se parecem com seus donos, um sorriso mais franco de alguém que passa, gestos de discórdia ou de gentileza um dia nublado, as ruas cheias, as pessoas apressadas correndo pelas ruas e avenidas, nosso cotidiano, a padaria fechada por mais que apressemos o passo para encontrá-la de portas abertas, homens trabalhando nas calçadas e impedindo o caminhar dos transeuntes, a brisa mais fria, ruas escuras ou claras, atendentes sem educação ou gentis, enfim, um mar de acontecimentos que se vão acumulando nas lembranças até que, se não forem registradas, se transformam em esquecimento.

Parece até que nossa chegada a Buenos Aires ocorreu ontem, mas já os dias voaram, estivemos em diversos lugares da capital, almoçamos em restaurantes cuja comida não valia um vintém e em outros aos quais pagaríamos o dobro pelo sabor dos pratos oferecidos, conhecemos montes de cafeterias, padarias, confeitarias, degustamos brioches, medialunas, alfajores, sorvetes Freddo, andamos muito a pé conhecendo ruas, bairros, distâncias, pegamos o metrô vezes sem fim, rodamos de táxi, fizemos daqui a nossa cidade por essas semanas, e da Recoleta o melhor bairro para residir ou passar temporadas. Porque na Recoleta de tudo tem. E o que me encanta, além de outros fetiches, é ver as ruas do bairro cheias de edifícios residencias convivendo com quiosques, padarias, confeitarias, lavanderias, lojas que vendem de alfinete a aviões, uns ao lados dos outros na maior e melhor harmonia. Isso, na realidade, foi o que mais me maravilhou.

Tive a oportunidade de passear tranquilamente por Palermo Soho e Palermo Hollywood e posso atestar que em nenhum deles eu alugaria um apartamento para permanecer durante um mês. Embora todos os cantem como locais interessantes, talvez por gostos pessoais, a mim se mostraram melancólicos, distantes, sem linhas de metrô por perto, um tanto desertos e provavelmente perigosos. Como meus momentos por esses bairros foram em manhãs e tardes vejo-me sem condições de sobre eles comentar no tocante ao aspecto noturno. Contudo, certamente torna-se muito difícil para quem não aluga um carro ou anda para lá e para cá de táxi residir naquelas bandas da cidade, ao menos no meu humilde ponto de vista. De considerar também, por outro lado, minha paixão à primeira vista pelo bairro da Recoleta, esse ponto mágico, atraente, gostoso e insinuante no sentido romântico por onde se pode caminhar na maior naturalidade e tranquilidade até a meia noite.

Não pense que nos finais de semana vai se deparar com uma Buenos Aires vazia em suas avenidas. Pelo contrário, nos sábados e domingos passeie à vontade pela Corrientes, Santa Fé, Callão, 9 de Julho e outras tantas durante o dia inteiro e até depois das vinte e duas horas. Muitas lojas - ou quase todas - abrem suas portas e funcionam como se fosse expediente normal. E as pessoas perambulam incansáveis nesses lugares. Os restaurantes e cafeterias, bem como as lanchonetes fazem a festa dos comensais e notívagos, na verdade é mesmo uma grande festança que se prolonga pelos teatros e boates noite adentro. Mal comparando, assim como Paris Buenos Aires é uma festa.

Como gosto de momentos pacatos, longas tardes gastei ao lado de minha amada numa das praças da Recoleta, mormente aquela próxima do cemitério onde está sepultada Eva Perón. Ali ficávamos a olhar as pessoas e seus animais, seus cigarros e seus gestos. Ali víamos os aviões ganhando o céu seguindo seus destinos. Ali as horas passavam e nós aproveitávamos para namorar, conversar e viver as emoções de estar na capital portenha sem correrias e sem ansiedades. Porque Buenos aires apaixona, atrai, conquista.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 30/10/2011
Código do texto: T3306893
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