TROCA DE CASAIS

TROCA DE CASAIS. *

Danilos

Tem uma coisa que estou querendo fazer há muito tempo, o desejo é forte, tem noites em que não durmo de tanta vontade, chego a imaginar como seria, a emoção me domina e curto suas conseqüências. Porem aprendi que tem coisas com final imprevisível e por isso requer muita cautela e na busca de meios para resolver o problema recorri a minhas lembranças. Em 1995 em Buenos Aires tomei um ônibus para São Paulo e quando qualquer pessoa faz uma viagem longa, sua primeira preocupação é conhecer os outros passageiros, principalmente o que vai dividir o banco conosco pois daí resulta uma viagem boa ou má. Ao meu lado um sujeito calado, no banco da frente uma senhora idosa de aparência respeitável e com ela outra mais nova. No banco ao lado um casal com duas crianças pequenas, nos outros bancos casais jovens ou meia idade. O ônibus era todo fechado por causa do ar condicionado e mal começou a viagem varias pessoas acenderam cigarros, inclusive a senhora que estava em minha frente. Foi desagradável mas não havia muito que fazer, mas a senhora acendeu outro cigarro na bia e assim foi fazendo, tanto que ao sairmos da região e alcançarmos a estrada a senhora já havia fumado cinco ou seis cigarros. O ar foi ficando irrespirável todos olhavam feio para a mulher que não estava nem aí com a coisa. O casal com as crianças lamentava, fazendo gestos para mim como me pedindo que tomasse providências. O pior estava por vir, a velha continuou acendendo cigarros um no outro, nem fumava apenas segurava aceso. Fui até o motorista e pedi ajuda ao que ele se negou alegando que era viagem internacional e muito longa e que não podia interferir. Após essa afirmação a casa caiu, deu desespero, iríamos morrer todos sufocados. Os passageiros começaram abrir as janelas e o ar condicionado caia e o ambiente gelava, fechava-se as janelas e ninguém respirava. O pior local era do meio para trás e por isso os casais começaram a se revezar trocando de vez em quando seu lugar com o de casais amigos que estavam mais à frente. A troca de casais amenizava mas a desgraça da velha continuava poluindo. O passageiro ao meu lado comentou que se o motorista não podia interferir como tinha alegado, também não deveria interferir se decidirmos parar o ônibus e por a triste figura para fora. Ninguém falou com a representante do capeta mas faziam gestos comunicando que o certo era dar umas porradas. Tenho uma natureza herdada de meu avô que se resume a não se falar com uma pessoa que sabe que está fazendo coisa errada e que nesses caso devemos ir pra cima de uma vez, com o famoso “murro na boca”. A viagem transformou-se em um inferno para todos os passageiros e a velha f...... p..... continuava com cigarros acesos. As idéias me passavam, a busca de soluções drásticas era o lugar comum, cheguei a olhar para o vão da janela e calcular se o corpo dela passaria por ali caso resolvêssemos jogá-la para fora. Após dez horas de sofrida viagem, anoiteceu e houve uma parada para janta. Os passageiros esparramaram para todo os lados, eu não fui ao banheiro, não fui comer, apenas segui a desgraçada da velha. Decidi que se tinha que ser tomada uma providencia o momento único era aquele, quem sabe daria para trancá-la em algum lugar. A morfética foi jantar com a amiga. Aguardei na porta e antes de executar o plano B resolvi executar o plano A .Parei o tribufú na saída e educadamente perguntei se ela percebeu que o ônibus estava gelado , e ela respondeu que percebeu mas a culpa era de quem abria as janelas, então expliquei para ela que abriam as janelas para poder respirar devido a fumaça de seus cigarros e relatei o drama dos passageiros que ela não notara ou se fizera de cega. Ela me olhou nos olhos e disse “não vou parar de fumar mas vou fazer força para fumar o menos possível. A viagem foi reiniciada e a senhora durante toda a noite acendeu apenas um cigarro, a bondosa mulher a partir do momento em que percebeu o mal que fazia controlou seu vicio mostrando educação. Gostei da bela figura. Fui buscar na memória essa solução pois como relatei no inicio, tem uma coisa que estou há muito querendo fazer. Acontece que próximo a minha casa tem um quiosque que funciona apenas à noite e tem um sujeito que aos finais de semana quando chega na madrugada encosta o carro ali abre a tampa traseira e liga um som que estremece as paredes das casas no quarteirão e toda noite em que ele termina solitário acha-se no direito de incomodar todos os vizinhos. A policia não interfere, então já cheguei a pensar em coquetel molotov, aí pára o barulho, mas lembrando da bondosa velhinha acho que antes vou falar com ele.

danilos
Enviado por danilos em 30/10/2011
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