Maria Maravilha da Penha

Maria, que não era da Penha, largou o fogão à lenha pela primeira vez em 94. O primeiro registro na carteira de trabalho fora feito, contudo, não muito diferente do que fazia em casa: limpar, passar, cozinhar e lavar. Em pouco tempo Maria já estava em uma faculdade, em menos tempo ainda estava assumindo a posição de secretária de um famoso empresário. Não contente, Maria teve de se pós-graduar e se tornar mestra, para só então conseguir um cargo de gerência. Apesar de tudo ainda ganhava dois terços do salário do colega João.

Certa noite, ao chegar em casa e ainda ter de enfrentar uma segunda rotina cansativa, Maria teve o peso bêbado da mão do marido. Já estava acostumada com a dor quase cotidiana, mas desta vez foi diferente. Ela se transformou em Penha. Maria da Penha, estava escrito. Entretanto, agora não era o pequeno caderno azul. Agora era o livro-mestre, aquele de capa verde e amarela.

A mulher maravilha saiu dos quadrinhos a fim de consquistar toda uma sociedade capitalista. Todos os dias milhares de Marias da Penha saem para ganhar um ou dois tostões com muito suor. Ao voltar para casa ainda encontram um lar sujo, dois filhos chorões e um marido "machão" e bêbado.