Desde muito pequena Dalva Maria questi-onava tudo e tinha respostas prontas para as mais diferentes ocasiões.
Sua mãe lhe dizia que ela tinha a língua feri-na, sempre com uma resposta desconcertante. Ela retrucava: eu não levo desaforo pra casa, mãe. Eu sou assim.
Um dia, com 5 ou 6 anos, contava para sua mãe sobre seus amigos da escola.
- Sabe, mãe, eu tenho 2 amigos, o Paulo e o João, mas eu gosto mais do João.
- Filha, a gente tem que gostar dos amigos do mesmo jeito. Amigo é amigo
- Mãe você está dizendo que eu devo fingir? Não acredito!
Aos 8 anos dizia para a vizinha que morava em frente à sua casa e que vivia descabelada e mal cheirosa: A senhora tem que se arrumar e ficar bonita pro seu marido ou ele vai arranjar outra mulher. Parece até que ela era vidente, pois foi o que aconteceu.
Ela foi crescendo e sempre dando as suas respostas.
Mais tarde, já uma moça feita, foi trabalhar e encontrou um chefe desagradável e muito metido. Não tinha nível universitário, mas queria ser chamado de Dr.Paulo.
Um belo dia ela anotou o nº do voo dele num post-it - aqueles bloquinhos amarelos, rosa, etc. - e, quando foi passá-lo para ele, o tal Dr. Paulo lhe disse:
Dona Dalva Maria, a senhora sabe quanto custa esse papel?
- Bom, Dr. Paulo, um homem como o senhor, que chegou à sua posição, merece que eu utilize esse papel. O senhor não ia querer que eu colocasse o nº do seu voo num pedacinho de papel de pão, não é?
Depois dessa o chefe saiu de fininho, sem saber o que dizer.
Atualmente não há mais necessidade de se usar esse recurso. A gente faz a reserva pela internet e é só imprimir ou, simplesmente, anotar o código no celular e apresentar no aeroporto.
A máxima de Dalva Maria, no entanto foi, ao acordar às 3 da manhã, com o telefone tocan-do e ouvir o interlocutor perguntar: É aí que mora uma mulher que chupa pau?
- Responder: é sim, meu caro, mas ela saiu com a sua mãe para treinar.
Imagino que ela ainda dará muitas respostas desse tipo. O que mais me espanta é a pessoa acordar no meio da noite e seu cérebro agir tão rapidamente, dando uma resposta que, seguramente, ninguém espera.