QUANDO A VIDA SE MOSTRA RETICENTE

Vontade de ficar com a cara enfiada ali no chão era o que não faltava. Chão frio e sala vazia, fazendo companhia para o coração amassado, pisado e transbordando esperança. O que provavelmente era o que lhe causava mal. Sim porque a esperança não lhe trazia alívio algum. Apenas mais medo e insegurança, pois se alimentava sozinha e a pobre sabia que seus desejos não eram coisas que se concretizariam. E mesmo assim a danada da esperança a atormentava.

Hoje ela queria escorrer pelo ralo. Dar descarga nas coisas que se passavam pela cabeça dela. A poeira dos dias a incomodava de forma inquestionável. E ela lamentava o estreitamento do mundo ao redor das coisas desagradáveis que lhe sufocava o peito, da garganta seca e da dor crônica que sentia na cabeça quando estes mesmos sentimentos a envolvia num misto de nobreza e ridículo. Era assim mesmo: tão ridiculamente nobre.

Abriu olho, mas não o olhar, e sentiu a frigidez do piso no seu corpo. Percebeu que ainda estava inerte ali no chão e teve uma breve sensação de alívio. Sentia-se como uma bêbada no meio de um lixo imundo. Mas não era. A verdade é que o que mais a machucava era justamente a beleza e força de seus sentimentos, e ela, muito fraca para sequer ser capaz de transbordar de ódio o seu tão tolo coração.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 28/10/2011
Reeditado em 07/11/2011
Código do texto: T3303467
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