Nem ela mesma sabia o porquê de estar naquela loja pensando em pedir, para ver, algumas calcinhas.
Lembrava-se apenas, de que na noite anterior, o marido reclamara das suas calcinhas estarem velhas e sem atrativo, mas daí a precisar comprar calcinhas novas...era uma longa distância.
Este súbito interesse dele pelas suas calcinhas fez com que a pulga que vivia atrás da sua orelha começasse a lhe cutucar com uma coceirinha....
Ela vinha desconfiando que ele estava de caso com outra, mas não tinha provas nem tempo para segui-lo e pegá-lo com a boca na botija, então passara-lhe pela mente que, se teria que competir com alguém, teria que ser com calcinhas novas. Por isto, ali estava .
Subitamente é arrancada do seu devaneio pela voz da vendedora:
_ Posso ajudá-la senhora?
- Senhorita...faça-me o favor.
_ Desculpe senhorita, achei ter visto uma aliança no seu dedo da mão esquerda....sussurra a vendedora.
- Desde quando uma aliança é sinal de casamento?- irrita-se.
_ É verdade, senhora... desculpe,senhorita, desde quando ....não é mesmo ?...
- Meta-se com a sua vida e me deixe em paz, vocifera.
_ Desculpe-me, já estou saindo...fala a gentil vendedora.
- Saindo? você vai saindo sem me atender? que tipo e vendedora é você?
Fique aqui e me atenda e é pra já!
_ O que a senhor..a...ita...deseja ver?
- Estou pensando...
_ Venha comigo, diz a moça gentilmente , vou mostrar-lhe algo interessante.
A vendedora a conduz com delicadeza, para diante da secção de calcinhas e fala:
_ Veja senhora, desculpe, senhorita...
quantas calcinhas lindas nós temos aqui. Enquanto a senhorita pensa, vai olhando para se distrair...
Ao se deparar com um cem números de calcinhas das mais variadas cores, mais variados modelos e tamanhos, ela surta, atirando algumas na vendedora enquanto se ajeita para sair, carregando outras tantas.
Valha-me São Benedito! onde já se viu mostrar calcinhas a quem não pediu? Será que nem pensar nós podemos e já estão adivinhando o nosso pensamento?
Algum tempo depois, após a saída da mulher irritada, a loja volta ao seu clima normal e chega a hora do almoço.
Na calçada, dentro do carro o marido da irritada aguarda....
Despedindo-se dos colegas a vendedora diz:
_ Até mais colegas, hoje chegarei mais tarde um pouquinho, segurem a onda por mim.
A passos largos ela se dirige para o carro, entra, fecha a porta, beija o homem ao volante e diz:
_ Nada de calcinhas novas...por hoje, chega!
soninha