MAIS FELIZ QUE PINTO NO LIXO...

Conheço um camarada desde quando eu nasci. Hoje ele tem cerca de setenta anos de idade. Todos que o conhece o julgam meio fraco das idéias, mas, eu sei que de simples ele não tem nada. Quando anda vai ziguezagueando pela trilha, resultado de sérios problemas de coluna e de uma perna curta, de fala enrolada, o que ele diz, poucos compreendem, porque fala sempre em meio ao riso, quase nunca se enerva e é amigo de todo mundo.

Também não conheço ninguém para gostar de mulher mais que o danado. Fala de sexo da maneira mais depravada, olhando para a figura do Zeca, ninguém imagina que ele tenha tal conhecimento, mas, quando fala, a gente logo percebe que ele já viu bem de perto ou participou de umas festinhas esquisitas, mesmo que tenha tido de pagar, tenho certeza que ele já foi parte numa brincadeira íntima.

Outro dia pus lenha na fogueira, fiz com que o coitado abrisse a boca em meio a muitas risadas. Perguntei quem lhe visitava constantemente, quem lhe fazia uns agrados e ele foi desatando tudo. Falou nome e endereço da aproveitadora, falou de como conseguia uns favores sexuais, falou até das particularidades das mamas, (disse que são maciiiiinhas) e das partes baixas, (disse que era pequeniniiiiinha), disse que a dona é mansiiiiinha de se coçar.

Perguntei se ela cobrava, ele disse que sim. Perguntei quanto, já que o Zeca vive com um salário mínimo do Governo e uma cesta básica distribuída pela Prefeitura local. Disse que dava a ela presentinhos, tais como: cinco quilos de arroz num dia; noutro, dois litros de óleo, outro dia teve que dar um requeijão caseiro, coisa fina, tinha custado quinze mangos. Continuei com o interrogatório.

- E quando é dinheiro, ela cobra quanto?

- Cobra dez, tem dia que é cinqüenta paus.

- Por que um dia é dez e outro é cinqüenta?

- Porque cinqüenta é completo.

- Completo, como assim, completo o quê?

- Dez é somente para olhar, cinqüenta é tudo.

Como eu desconfiava que o danado não desse conta de nada, perguntei-lhe o que era completo, completo incluía o que?

- tudo uai?

- tudo o que Zeca?

- tudo é tudo, uai; é oiá, pegá, apertá e lembê.

E eu que pensei que tudo tinha mais alguma coisinha. Vivendo e aprendendo. Mas, lembê, foi demais pra mim. Imagine a cena da forma que o querido leitor quiser, mas, deve ser no mínimo, muita engraçada aquela figura a lamber a caça abatida.

A conversa teve que parar por aqui, porque lá na esquina apareceu a dita cuja, toda sorridente. E lá se foi o Zeca pra dentro da cazinha dele, mais feliz que pinto no lixo, se sentindo mais galã que o Francisco Cuoco nos tempos áureos.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 28/10/2011
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