"Por um triz"

Feliz da vida levei meu filho Ricardo, para fazer o TAF. Ele, já havia feito todos os exames e havia passado. Só faltava o, Teste de Aptidão Física, (TAF). Suas notas, não foram às melhores, só conseguiu a média. Fiquei feliz, pois eu também passei raspando. (comentei) (mentira, na minha época, exigia-se muito e passei em terceiro lugar, havia estudado demais). Às vezes, me questiono, se não merecia nota melhor.Bem, ele fez a escolinha ou escola de Homem, e saiu. Não conseguiu o que queria (ROTA), sonho de todo iniciante. Foi para um batalhão de área, compor uma equipe de tático móvel.Todo dia, ao chegar em casa, vinha conversar. No sofá, ficava sabendo das últimas, ele contava ocorrências e sua participação. Eu já tinha visto o filme . Nunca iria desmenti-lo, pois a mãe como quem não queria nada. Ficava a distancia, limpando um móvel, ou arrumando um vaso de flores. Mas por sua expressão, via-se que não perdia uma palavra. Coitada, em sua cabeça via seu bebê, sendo atacado por dragões. Ele, com uma espada de fogo, colocava todos para correr. Este era o sonho da mãe. Eu, patrulheiro aposentado, via o aluno soldado, que às vezes saía em patrulha. Pelos bares da vida, enchendo o caneco de cerveja, namorando as mulheres-dama, da vida. Sonhos diferentes, do que rolam às vezes nas patrulhas. Um dia, voltávamos do mercado, fomos abordados por dois pivetes .Estavam armados. Vi, que meu filho, estava com a arma às costas. Fiz tudo, para atrair atenção, dos pivetes para mim. Tentava, desesperadamente, passar uma mensagem à meu filho. “Não use a arma filho”, “Pelo amor de Deus, não puxe a arma”. Minhas preces foram em vão. Meu filho olhou para mim, como se pedindo desculpas, por me ver humilhado. Eu não estava armado. Deu um giro rápido, que até eu fiquei surpreso, sacando a arma, atirou nos pivetes. Todos atiraram, os pivetes caíram com tiros certeiros, meu filho também. Eu o peguei nos braços, e corri. Esqueci de telefonar, pedir ajuda, só corri com ele. Até que cair, de cansaço. Ele gemia, e falou:- Não é nada pai, o carinha, era ruim de tiro, e eu sou um soldado. Realmente filho, você é, eu que sou um bosta, de deixar isto acontecer. Tiraram-no, de minhas mãos, infelizmente eu sabia, como a história acaba. Vi, na TV a reportagem, trabalhar maçiçamente, em cima do caso. Entrei em hibernação, fiquei alienado. Minha esposa, me trouxe uma sopa, que eu não quis, ela falou. :- Você precisa melhorar, porque teu filho tem alta amanhã. Quem vai buscá-lo, amanhã no H.P.M.? Nasci, de novo, sorria, chorava, queria cantar. Você, nunca mentiu para mim, por que agora? :- De que? Do Ricardo?

:- É, ele teve duas costelas quebradas, está enfaixado, mas sai amanhã. Mandou te avisar, que o colete que você deu, salvou a vida dele. E ele que não queria usar, lembra? Realmente, comprei para ele um colete à prova de balas, assim que saiu da escola de policia. Havia me esquecido disto. Fui buscá-lo no hospital, e fizemos uma festa em casa. Vieram seus colegas de farda, sua namorada estava agarrada em seu braço, parecia querer amarrá-lo. Todos queriam saber da ação, eu não conseguia falar, mas o moleque falou:- Quando os malas nos pegaram, fiquei muito nervoso, e com medo. Pensei, agora meu pai vai querer mostrar o que sabe, vamos morrer por causa disto. Olhei para ele firmemente e pensei, segura pai, vamos passar por esta. Senti que ele me recriminou, você é um soldado, ou um saco de batatas? Ta bom velho, hoje é um bom dia para morrer, mas vem, que aqui é Papa Mike, safados. Chupem que é doce, e sentei o dedo. Foi só (5 X). Fiquei feliz, porque, fiz o que sei que o velho faria, me abraçou e choramos juntos. Quando terminou a festa, com a namoradinha de um lado e a mãe do outro, veio conversar. Pensei que o pensamento da tropa pelos antigões, era outro. De gozação?

Sim de gozação, mas com muito respeito, porque sabemos que a maioria como você, que sem colete, só com um oitão e seis mechas, encaravam a barra de qualquer modo. Acho que os de hoje, morreriam de medo. Brincar, sim, mas com muito respeito, pois vocês mesmo com algumas restrições, ainda são os heróis da PM. Aqui vai, com todo respeito à tropa, recrutas, e antigões. Em qualquer serviço, todos nobres e digno de elogios. Meus heróis continuem trabalhando, em prol da sociedade. Não aguarde tapinha nas costas. Apenas faça o que é certo. Só que,... Por favor, volte para casa. Tem gente lá, que chora na sua ausência.

T.K.S.

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 28/10/2011
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