O DIA EM QUE O MUNDO ACABOU

Aceite os fatos, mon ami, o mundo acabou...estamos todos aqui, vestidos com camisola azul – calcinha e boiando no meio do nada, feito peixinhos de aquário, enquanto as migalhinhas da Terra estão por aí. Falando em “por aí”, olha só quanta gente! Olha lá o seu chefe...hoje ele não vai te encher por causa do seu atraso ou pela barba por fazer – eh! eh! – com aquela saia de anjinho ele já está parecendo um botijão de gás. Espera lá, cadê a sua mulher? Procura daqui... Procura dali e você esbarra com o Juca , lembra dele? Pois é, ele continua o mesmo, desde quando ele...morreu!?! Ah, é! Todos aqui estão, até você. Hmmm! Se o Juca está por aqui, então a Marcinha do 604 também; isto é muito interessante...muito, muito interessante. Ih, olha lá a sua esposa de prosa com o falecido. Será que até aqui ele vai te atrapalhar? “O falecido isto, o falecido aquilo” Ou então a clássica: “Ah se fosse no tempo do falecido...” Melhor deixá-los conversando. Será que aqui em cima existe divórcio?

Mas tudo bem, “dá nada não”( como diz a gurizada por aí), aproveite, pegue a sua lira, seu par de asinhas e a auréola e vem comigo. Tirando o fato de estar morto, não é tão ruim estar morto, não é mesmo? Você já estava ficando entediado quando ouve um batuque bastante familiar... um monte de cidadãos afro-brasileiros (antigamente falava-se “negões” com a boca cheia, mas isso foi antes de acharem que negrão é palavrão) atacando um pagodinho, algumas “arianinhas” (viu como soa estranho?) requebrando-se e uma legião de anjinhos com rebolado de gringo acompanhando o ritmo, tudo numa “nice”, como falava-se nos bons velhos tempos. Legal! Tem até caipirinha, mas como aqui é o paraíso, ela é sem álcool (Bleargh!!!), nem tudo é perfeito.

Você come feijoada sem medo da gordura ou do colesterol, afinal, você já foi desta para melhor ( e bota melhor nisso), tirou uma soneca em uma nuvem – que por sinal, são bem melhores que as redes – e teve uma anja – com pinta de atriz pornô – que já andou te dando umas piscadas. Em resumo, não era o Brasil que era um Paraíso, o Paraíso que é um Brasil, só que melhorado, onde se pode conjugar o verbo vagabundear com letras garrafais, e sem constrangimento algum. É tipo um ISO 9002 em vadiagem. Tem um detalhe que não se parece com o Brasil... De repente um sujeito vestido de vermelho e com chifres sai de trás de uma nuvem, te aponta um tridente e diz: “Aê, mermão, vai passando as asinha e a auréola senão te furo!!!” Pronto! Igualzinho ao Brasil