Mãe, eternamente serás
 
 

Estava eu no ventre de minha mãe aconchegada, protegida, amada. Pensava que ali seria minha morada definitiva. Um belo dia fui empurrada para fora e sem que eu entendesse o porquê, obedeci ao comando. Pensei ter perdido meu primeiro amor, para minha surpresa, ao sair, o amor se fez carne no abraço que dela recebi. Quando pude com avidez sugar seus seios, percebi que todos os sentimentos antes experimentados estavam tomando forma mais profunda e que agora eu podia ver e tocar o amor.
 
Por algum tempo, eu e ela éramos com se fosse uma única pessoa, meus desejos e necessidades eram supridas nela e com ela, para mim era como que uma magia. Em seus braços eu podia experimentar novas sensações, conquistar novos espaços e aprender o significado da palavra doação.
 
Quando aprendi a andar e caia, era por ela encorajada a levantar e tentar novamente, assim eu aprendia que na vida muitas vezes cairia, mas que precisava levantar para recomeçar. Aprendi, também com ela a falar. No início palavras incompreensíveis, depois incompletas, mas a cada palavra acertada que eu pronunciava, ela me ensinava que para nos relacionarmos melhor com as pessoas precisaríamos aprimorar o vocabulário e escolher as palavras certas para cada momento. Quando eu chorava, era por ela acalentada, aprendia, assim, que não havia necessidade de perder a calma diante dos problemas.

Veio a escola, com as tarefas escolares vieram as primeiras dificuldades da escrita e quantas vezes tinha eu que apagar e refazer, com carinho ela me ensinava que muitas vezes na vida eu ia errar e teria que voltar atrás para poder acertar.
 
No auge das mudanças físicas e hormonais da adolescência, um turbilhão de dúvidas e incertezas desceu sobre mim e diante das minhas inquietudes ela me falava que haviam de vir dias em que eu pensaria que o mundo ia desabar, mas que eu ia precisar entender que era dentro de mim que estavam as minhas respostas.
 
Inesquecível é sempre o primeiro beijo e na euforia das primeiras paixões ficava eu imóvel, paralisada, a sonhar acordada. Sorridente, entendendo meus devaneios, com palavras sábias me anunciava a necessidade que eu teria de transformar os sonhos em realidade para que atingisse a maturidade. A proporção que eu ia crescendo, se avolumavam as ansiedades, expectativas, inseguranças e medos, nada como o ombro que ela me oferecia para me fazer ter esperanças.
 
Com o nascimento dos meus filhos pude por em prática o que aprendi dela sobre o que é se oferecer em doação na sua mais plena acepção e pude compreender a grandiosidade da expressão amor, do amor sem limites, do amor incondicional.

Olhando seus cabelos brancos, sua fala enfraquecida e seu físico frágil, tudo aquilo que anteriormente era vigoroso, estava esvaindo-se, mas, proporcionalmente, era visível como sua capacidade de amar era ampliada, embora que, agora transmitida apenas num gesto, num afeto, num beijo. Alí, eu não necessitava mais de suas belas palavras, pois o meu coração estava cravejado delas como se fossem diamantes puros.

São esses diamantes que me guiam pelos vales escuros ou verdejantes; que me encorajam a derrubar ou erguer as minhas muralhas; que me lançam para a frente das batalhas e que me motivam para a luta em busca do erguimento da bandeira da vitória.
 
Com sua partida se foi o corpóreo, o material, mas o sensível, o amor, continua presente em mim. A lembrança dela é um bálsamo que me mantém na certeza de que um dia, em algum lugar, poderemos continuar nossa história de amor.

Enquanto isto, sigo meu caminhar dando significado a tudo o que dela aprendi, eternalizando-a.


 
Maria Celene Almeida
Enviado por Maria Celene Almeida em 27/10/2011
Reeditado em 28/10/2011
Código do texto: T3302122
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.