O PASSARINHEIRO

Historias contadas em Jarinu

O passarinheiro.

Danilos

Há muito tempo fui em Sto. André resolver um negócio e tive que procurar a pessoa em sua casa. O homem me atendeu, mandou entrar e pediu para aguardar um pouco para que ele terminasse de tratar seus passarinhos. Nesse meio de tempo nosso assunto passou a ser sobre as aves, que ele mostrava com orgulho. Comentei que os pintassilgos que ele tanto valorizava tinham em abundancia nas vizinhanças de minha casa, e o passarinheiro se entusiasmou, fez perguntas, demonstrou interesse em conhecer o local e então indagou: “Você mora onde”?

Quando respondi, Jarinu, a expressão do homem mudou, ficou carrancudo e disse:

“Deus me livre de Jarinu”.

Fiquei surpreso e curioso com sua declaração e pedi que justificasse sua opinião, então o homem me explicou que certa vez conheceu em São Paulo, o proprietário de uma grande fazenda em nosso município e que este o autorizou a passarinhar em suas terras.

Em um domingo bem cedo o caçador veio para Jarinu, com o carro lotado de armadilhas e um revolver entre os dois bancos da frente, pois era seu costume usá-lo nas matas. Localizou a fazenda abriu a porteira e foi entrando, até que encontrou o caseiro que quis saber o que ele fazia ali . “vim caçar pintassilgos, o seu patrão me autorizou”, foi a resposta.

O caseiro pediu que aguardasse um pouco no carro, foi até sua casa e de repente apareceu ao lado do carro com uma cartucheira de dois canos e ordenou que o caçador saísse imediatamente da fazenda, ao mesmo tempo em que apontava a arma para o passarinheiro, que neste momento desceu a mão até o revolver mas não sacou, pois ficou com medo de levar um tiro, entendeu que se reagisse não teria chance.

Então tirou a mão do revolver e nervoso retrucou dizendo que tinha autorização do proprietário a quem o caseiro era submisso e ouviu essa resposta:

“Moço faz um favor saia já daqui, antes que as coisas fiquem piores, e se o dono da fazenda te autorizou a caçar aqui, deu uma ordem sobre o que não tinha direito pois ele é dono da fazenda e não dos passarinhos”. O caçador se retirou achando-se ofendido e humilhado e jurou que nunca mais voltaria em Jarinu. Ao ouvir esse relato me enchi de orgulho e não sei até hoje em qual fazenda isso aconteceu ou quem foi o caseiro que tomou tal atitude em uma época que não se falava em preservação. Atualmente me recordo desses fatos quando vejo que não há mais pintassilgos onde moro ou quando vejo os bandos de maritacas que tem aparecido ultimamente por aqui e me entristeço pois apesar do belo espetáculo sabemos que só vieram por terem perdido seus habitats naturais, assim entendo que a ausência dos pintassilgos ou a presença das maritacas são fatos que ocorrem hoje por falta de mais pessoas com atitudes como a do caseiro no passado.

danilos
Enviado por danilos em 27/10/2011
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