Dois caminhos.

Eu caminhava por uma estrada sombria e cheia de bifurcações. Quando comecei o percurso, era uma novidade e por conta disso, ansiava loucamente por descobrir o que viria depois. Um dia, enquanto corria pela rua, distraída, olhando pro céu, tropecei em uma pedra. Ralei o joelho. Desse dia em diante, nunca mais soube caminhar sem desviar os olhos do chão. Algumas vezes olhava para os lados, só para certificar-me de que não estava sozinha. No entanto, sem que percebesse a noite foi chegando. O sol se foi, e parece que por algum motivo, levou meus sorrisos. Todos haviam ido embora e eu precisei sozinha, levantar do chão cada vez que aparecesse uma pedra; até não conseguir mais. Com a noite já havia me acostumado, apesar de lamentá-la todo dia. Era enorme a saudade que sentia da luz. Será que já não bastava de tanta escuridão?

Ao fim do meu percurso, encontrei uma ponte. Começava no mesmo lugar, mas dependendo da direção que escolhesse, levaria-me a destinos diferentes. Ela era longa, mas parecia ter o tempo suficiente para que descobrisse o que havia em seu caminho. Nem parei para pensar e já escolhi o lado esquerdo. O lado da emoção, ao que diriam alguns. Esse me atraiu pelas palavras que havia no ar, a incitante imprevisibilidade, junto ao sentimento de romantismo. O doce e viciante cheiro da adrenalina, que se misturava a uma estranha idealização. Bem, isso não importa. Era um caminho sinuoso, e tinha muitos obstáculos. Algumas vezes, a noite chegava. Mas ela sempre ia embora e o sol reinava no céu, como tem que ser. Logo em seguida vinha o alívio, onde meus olhos encontravam a amarga melodia do amor. Era hora do jantar.

Não sei em que momento cansei. Na verdade, nem sei se “cansaço” é a palavra certa. Havia tantos obstáculos em meu caminho, que às vezes parecia impossível chegar a meu destino. Apesar disso, eu não queria desviar, porque era bonito demais. E eu era apaixonada por aquele caminho. Tudo que nele continha, incitava em mim uma vontade de permanecer lá… para sempre. Ou por um bom e significativo tempo, que fosse. O problema é que alguns obstáculos eram altos ou grandes demais. E eu, por ser tão pequeninha e frágil, não conseguia ultrapassá-los. Por mais que em alguns momentos meus tombos machucassem, não via a hora de levantar vitoriosa, e continuar brincando de voar. Mas sem que eu percebesse, alguém me cortou as asas.

Eu não sabia de que direção vinha aquela força, mas ela me atraiu. Sob o céu, estendeu-me as mãos e me levantou, cuidando de todos os machucados que um dia, surgiram. Quando me dei conta, não havia mais jeito. Meus pés e minha mente já apontavam para aquela direção. Eu estava presa, mas ainda havia tempo para voltar, eu acho. No entanto, eu escolhi permanecer ali, para onde tinha sido atraída. Eu que sempre confiei num utópico destino, acreditei que deveria continuar meu percurso a partir dali, já que foi pra lá que o futuro me direcionou. E aquela estrada, não era nada mal. A música que tocava durante a caminhada era a de um violão invertido e ágil, nada de acordes desafinados que tanto me esquentaram os ouvidos nas frias e anteriores noites. Havia a certeza de um sentimento (temporariamente) verdadeiro, e a estabilidade. Como se possuísse um mapa, fui seguindo as coordenadas, e já estava envolvida por toda a música. Um par de olhos castanho-claro sempre me seguia, e uma mão insistente que em volta de minha cintura, fazia com que fosse prazeroso, ter os pés no chão, pois me dizia que não era preciso asas, para alçar vôo. Enquanto a música me chegava aos ouvidos, e meus dedos se entrelaçavam em outros, estava tudo bem. Eu estava bem. E feliz. Apaixonada por aquele caminho. De novo. Seriam (muitos) dias especiais.

Mas o tempo passa. O meu caminho já era tão previsível, que em alguns momentos parecia não haver nenhuma certeza. Perdi a música, perdi as palavras, as mãos em minha cintura e o par de olhos castanho-claros. Na maior parte do tempo, perdi a primária felicidade. Foi quando encontrei, dentro dessa estrada, uma rua paralela. E curiosa, resolvi ir lá descobrir o que poderia encontrar. Ela levou-me ao meu inicial ponto de partida. Pronto, tava aqui a chance que tanto pedi.

O problema é que sozinha eu não sei pra onde ir.

Alguém pode me devolver as asas?