Escrito com a força do pensamento
Eram três ou quatro homens e vestiam ternos, então achei por bem dar crédito ao que falavam. Faziam parte daquele seleto grupo de pessoas capaz de dizer que alguma coisa “causou espécie”. Certamente há alguma piada a ser feita sobre essa expressão – provavelmente envolvendo Darwin – mas não serei eu a fazê-la, porque senão corro o risco de perder alguma parte importante da conversa. E os homens falavam sobre tecnologia. Um deles parece que tinha um tablet, e o assunto geral era sobre como estava mais fácil a vida de quem, como eles, precisava digitar coisas.
Foi então que um deles informou que já estavam sendo feitos estudos para que em breve possamos escrever sem cansar os nossos dedos: apenas pela força do pensamento. Bastará olhar para uma tela, nos concentrar, e logo veremos escrito nela tudo o que pensamos. “Será uma revolução educacional”, disse um deles. Nada sei, nada sei. Apenas sei que, se isso tudo for verdade, precisarei me adaptar. Isso porque eu costumo pensar muita coisa. Arrisco dizer que não faço outra coisa desde que me levanto. E me habituei de tal maneira a esse vício que, se fosse conectado a algum aparelho assim, eu fatalmente acabaria pensando coisa que não devia e embaralhando tudo. Isso porque não consigo pensar uma coisa de cada vez – prova disso são as vinte janelas abertas no meu computador.
Mas apesar de achar que não me daria bem, eu resolvi fazer um teste, até para treinar um pouco e não fazer feio quando essa tecnologia chegar. O que vai se ler agora é a história do Chapeuzinho Vermelho escrita com a força do pensamento. Vamos a ela.
Chapeuzinho Vermelho era uma menina que, bem, usava um chapéu vermelho. E provavelmente pequeno. Delícia esse biscoito de queijo. Ela atravessava a floresta para entregar uma cesta de pães para a sua avó doente. Vou pegar mais um. O caminho da floresta se dividia. Tenho que carregar meu celular. E mudar de canal. Novela ou Ratinho? Terrível. O caminho da floresta se dividia em dois. Um era longo e seguro, o outro era curto e perigoso. Ratinho mesmo. A menina toma o caminho curto e é vista por um lobo. Ele sugere que Chapeuzinho vá pelo outro caminho. Parece quinta, mas é quarta ainda. Amanhã tenho que. Ela segue a orientação do lobo e volta trás. Mas enquanto isso, o lobo chega pelo. E o Aldo Rebelo, que pode ser ministro? É o fim da rosca. Nem vi o jornal hoje. Mas enquanto isso, o lobo chega pelo caminho curto à casa da avó. E a devora completamente. Sacanagem. Que droga, Ratinho, desde ontem que você promete revelar o terrível segredo desse homem. E a devora completamente. Orlando Silva citou Neruda. O lobo se vestiu com as roupas da avó e aguardou Chapeuzinho. Quando ela. Coceira boba essa. Quando ela chega, notou que a avó estava estranha. Mas também, só faltava não notar. Parou a chuva. Meu, que meleca eu fiz agora? Botei sem querer aquele bagulho que monitora a formatação do Word. Agora tudo que escrevo sai em vermelho. Pelamor. Copiar tudo e passar pra outro arquivo. E falou para ele: “Por que esses olhos tão grandes?”. Não contou? Não contou o segredo hoje também? Tomá banho, Ratinho. Isso é típico de. E o lobo respondeu “É pra te ver melhor”. Quer saber, enjoei dessa crônica. Vou é aproveitar enquanto não existe tecnologia nenhuma. E viveram felizes para sempre.
Mas o Aldo Rebelo é dose, hein.