TROTES

 

 

 

Houve um tempo em que passar trote pelo telefone era diversão de garotos e adolescentes. Da primeira vez que ouvi um, eu era criança ainda e nem entendi. Perguntaram se penico de barro enferrujava...

 

Quem recebia muitos trotes era o dono do armazém perto da minha casa. Os meninos sempre telefonavam perguntando se ele tinha latas de sardinha. Tinha, claro. Então mandavam que soltasse as coitadinhas, estavam tão apertadinhas... Pediam também encomendas de muita coisa para ser entregue na casa da Fulana de Tal. Depois, escondidos atrás das cortinas, ficavam esperando o empregado do armazém bater à porta da velha mais chata do bairro. E rolavam de rir com a discussão que se seguia.

 

Outro alvo da molecada era um senhor da vizinhança chamado Jacques. Todo santo dia alguém ligava para sua casa: Seu Jacques está? Está. E antes que fossem chamá-lo, diziam: Então, já que está, deixa ficar! E desligavam.

 

Mais tarde, lembro que rapazes ligavam para garotas dizendo-se apaixonados, marcavam encontros, estariam na esquina tal, à tal hora, vestindo camisa preta de bolinhas amarelas... Às vezes eles gostavam mesmo da menina que nem lhes dava bola, diziam usar o trote como vingança.  Mas eu desconfio que era um modo de falar-lhes de amor incognitamente.

 

Porém, se iam incognitamente ao local do encontro, só para ver se ela comparecia, não sei dizer. Acredito que alguns tenham tido a esperança... Vá saber.