Obrigado São Paulo

Quando se é compulsoriamente aposentado, essa desagradável surpresa, nos faz buscar outros caminhos, diferente daquela trilha já sem relva, devido à rotina de passarmos diariamente sobre ela.

Existem alguns que, cômoda e destrutivamente, entregam-se à inércia e à solidão.

Felizmente, fui inspirado a buscar caminhos nunca antes nem sequer imaginados, quanto mais trilhados. Assim, nasceu o amador em elaborar prosas, rimas e melodias.

Quando passamos dos setenta, penso ser habitual, fazermos inventários.

Inventariamos momentos, pessoas que fazem parte de nosso patrimônio afetivo e, creiam, até nossos trabalhos amadores.

Quando inventariava meus arquivos, fiquei surpreso com minha ingratidão pelo esquecimento da cidade de São Paulo.

Fui invadido pelo sobressalto de partir para os espaços de outra vida e não ter percebido tamanha ingratidão.

São Paulo, querida “Paulicéia Desvairada”. Com teus desatinos deste-me o melhor para minha vida adulta.

Foste minha mestra. Nas tuas indústrias e nos teus escritórios de consultoria tornei-me profissional. Graças a teus desatinos de crescimento industrial e de prestação de serviços ensinaste-me a fazer alguma coisa, que me possibilitou trocá-la por salário e garantir a manutenção da família.

Foi numa de tuas empresas prestadoras de serviços públicos onde tive grande realização profissional.

Foste meu cúpido. Cidade que, tal como coração materno, sempre cabe mais um. Esse teu caráter ecumênico, essa tua universalidade, permite encontros “escrito nas estrelas”. Concedeste-me esse milagre.

Foste o palco das minhas duas maiores obras, apesar de pequena participação. Minhas duas melhores composições, com grande participação e parceria do milagre concedido, nasceram em uma de tuas maternidades.

Também, graças a teu caráter universal, reencontrei no teu recanto alegre, buliçoso e gesticulador, Bexiga, o ambiente deixado distante no norte brasileiro da “mama” e da “nona”.

Sem qualquer compromisso político, fui beneficiado por teu programa social, que poderíamos titular: “nosso sobradinho, nosso ninho”.

Querida “Paulicéia Desvairada” foi nos intervalos silenciosos de tua agitação, que emergiram desvarios de um íntimo submerso e desconhecido. Bondosa, compassiva, presenteaste-me com grande e riquíssima experiência humana vivida em grupo.

Paulicéia: por teres: sido minha mestra; meu cupido; o palco de minhas duas maiores obras; iniciadora de o processo de autoconhecimento; enfim por teres sido meu eldorado; obrigado São Paulo.

"São Paulo! Obrigado" são rimas e melodia de gratidão mas, certamente, gratidão, não só minha, mas de todos os emigrantes, que deixaram seus rincões em busca de possibilidades de um viver melhor.

São Paulo! Obrigado

Antes do apito final

do jogo maior, a vida,

quero, de modo natural,

agradecer-te “Paulicéia esbaforida”

Teus desatinos por crescimento

tornaram-me profissional.

Meu encontro, escrito no firmamento,

em teu palco de repentes,óperas e carnaval.

Parceria, da qual foste cupido,

apesar de pequena a participação,

pelas duas maiores obras fui invadido:

alegria; poesia; e melodia do coração.

Afloram desvarios com teu burburinho

e pânico com o concreto da tua solidão.

Bondosa e sábia revelas um caminho,

onde segredos jorram como lavas de vulcão.

Por teres sido: mestre; cupido;

fada madrinha; analista; teclado;

e as margens do Ipiranga do meu grito.

A ti, São Paulo, o nosso eterno obrigado.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 26/10/2011
Reeditado em 29/02/2012
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