O CONTADOR DAS MORTES NO TRÂNSITO
Assim como nas demais vezes, o motorista de ambulância e socorrista de Flores da Cunha (RS) foi acionado para atender a um acidente. Aparentemente, seria um socorro igual aos anteriores. Mas não era. Dentre os acidentados estava o seu filho. E o mais grave: a vítima fatal era esse jovem. Uma história horripilante e, infelizmente, real, ocorrida no dia 14 de outubro.
A morte é algo que não conseguimos evitar. Mas se estamos em idade avançada, enfermos com alguma doença terminal, a espera pelo fim derradeiro torna-se mais natural, mais aceitável. No entanto, mortes em assaltos, acidentes de trânsito ou por qualquer outra razão inesperada agrava a dor. Porque nessas horas não há tempo para despedir-se em vida, ficaram abraços sem serem dados e desculpas engasgadas na garganta.
O teste do bafômetro realizado pela Polícia Militar acusou que o Sr. Roger Luis Puglia, motorista do Palio que se chocou com a moto onde estava o jovem falecido, havia ingerido álcool. Se ele soubesse que a sua bebedinha antes de dirigir resultasse nisso, certamente não pegaria no volante. Mas a crença de que beber um pouco não interfere na direção é uma cultura vigente e com raízes muito profundas na nossa sociedade.
Os plantões de bebidas servem como um excelente local para conversar, bater um papo com amigos, conhecer outras pessoas e curtir a noite, principalmente quando o dinheiro está curto. Francamente, poucas pessoas vão a esses lugares e tomam água mineral ou refrigerante. Da mesma forma, muita gente vai a bares e restaurantes e toma umas doses de álcool. Dois ou três golinhos de cerveja, só para degustar, para acompanhar no brinde ou mesmo para socializar. E ninguém chama um táxi para voltar para casa nessas horas. Uma irresponsabilidade nossa? Certamente. E isso é costume, é cultura.
A consequência disso é um número mórbido de falecimentos em razão do trânsito. Não por coincidência, esses indicadores aumentam significativamente nos finais de semana. É o povo saindo, bebendo, dirigindo, colidindo, ferindo e matando.
No site do jornal porto-alegrense Zero Hora há uma página muito interessante e, ao mesmo tempo, morfética. Tem o macabro título de “Mapa das mortes no trânsito”, com os índices de 2010 e de 2011 atualizado em tempo real, referentes ao Rio Grande do Sul. Ao lado, dois contadores prá lá de sinistros com as inscrições: “vítimas: 1666 - Atualizado em 31/12/2010”, e “vítimas: 1094 - Atualizado em 22/10/2011”.
Semelhante ao site do Impostômetro (http://www.impostometro.org.br/) criado para todo cidadão poder contabilizar o quanto de imposto foi arrecadado no ano, o Mapa das mortes no trânsito no Rio Grande do Sul contabiliza o ruim, aquilo que gostaríamos que estivesse o mais próximo possível do zero. Entretanto, a tendência é de crescimento.
O que o motorista de Flores da Cunha pode fazer agora, depois do acidente? Cabe a ele responder pelos seus atos. E o que nós podemos fazer para estagnar os números de mortes no estado? Cada um fazendo a sua parte já ajuda, sem dirigir após a bebedeira. Exigindo que quem faz isso seja responsabilizado. Cobrando a punição de quem quer que tenha realizado a péssima mistura álcool x direção, para que casos como o da juíza aposentada Rosmari Girardi, que no ano passado provocou acidente com sete veículos em Porto Alegre, não se repitam. Ela possuía sinais de embriaguez, negou-se a realizar o teste do bafômetro, as coletas de urina e sangue e foi liberada. E isso não podemos admitir.
A vida não pode ser recuperada, nem a dor da família apascentada. Mas podemos pegar este fato como exemplo para não repetirmos o erro, para não sermos mais um número estatístico.