Teorias

Teorias. Quem não as tem? Possíveis, absurdas. De Lamarck e Darwin (acredite, você é filho de uma ameba) até os doutores do Casseta e Planeta, partindo da evolução ou da conspiração ou, seja lá de que outros delírios dos quais é capaz o homem. O Fato é que de “A Origem das Espécies” até “Como Se Dar Bem Na Vida Mesmo Sendo Um Bosta” tem coisas a se aproveitar e a se desprezar.

Tenho um amigo que acredita que toda a raça humana é resultado de experiências alienígenas, daí as qualidades peculiares de cada povo: a inteligência dos amarelos, a resistência física dos negros, a susceptibilidade dos peles-vermelhas às enfermidades próprias dos brancos e assim por diante.

A Teoria da Terra oca afirma que a Terra não é um esferóide sólido, mas sim oca com aberturas nos pólos. No seu interior viveria uma civilização tecnologicamente avançada, cujos integrantes às vezes vêm para a superfície em OVNIs.

A Teoria do Caos estabelece que uma pequena mudança ocorrida no início de um evento qualquer pode ter conseqüências desconhecidas no futuro. Isto é, se você realizar uma ação nesse exato momento, essa terá um resultado amanhã, embora desconhecido.

Bom ter em mente o caráter hipotético das teorias, sobretudo vivendo num meio onde “todo mundo explica tudo” e, naturalmente, as controvérsias são inevitáveis. Que as discussões nos levem a crescer, que nos divirtam muito, mas nunca nos separem. Você não tem que pensar igual a mim, ou gostar das mesmas coisas que eu. Nossa disputa sairia do nível do mero bate-boca, pois quero exclusividade de algumas coisas de que gosto. Você não? Sobre a questão do falar e ouvir, da busca da aceitação mútua, bem se expressa a Desiderata, escrito de autor desconhecido achado na igreja de Saint Paul de Baltimore, no ano de 1692: “Fale a sua verdade mansa e claramente, e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes, eles também tem sua própria história.”

Outro dia, numa festa pública, alguém que usava um microfone em cima de um palanque, com a melhor das intenções, já que queria ver o povo se divertir, propôs um jogo de faz-de-conta: “dizem que nossa cidade é violenta, mas não é.” Bem. Há controvérsias. Não sei o que ele entende por violência. Talvez seja uma questão de parâmetros. É relativo.

Moro, há vinte anos, num bairro com alto índice de criminalidade. O medo de levar uma bala perdida não me impede de sair às ruas sempre que tenho necessidade disso. Tenho coragem e nem acredito que do outro lado tenha setenta virgens esperando por mim. Mas sei do risco. Na semana passada houve um tiroteio na praça no meio da tarde, do qual saíram dois feridos. Recentemente, numa tarde de domingo, dois homens foram executados a tiros a três quarteirões de minha casa. Não vamos levantar aqui uma lista de crimes e assassinatos ocorridos lá na minha vizinhança ou onde quer que seja, mas proponho que o caro leitor, faça uma lista mental dos atos de violência de que for capaz de lembrar e depois me diga se podemos simplesmente fingir que está tudo bem. Gosto do meu bairro. Lá vivo pacificamente e lá criei meus filhos. Pessoalmente nunca sofri qualquer tipo de agressão, convivo bem e sou respeitado por gregos e troianos, mas não posso fechar os olhos para o que afeta a minha comunidade.

“Não há motivo para festa a hora é esta eu não sei rir à toa”, já disse o cantor popular. Mas tenho também uma teoria: a Humanidade caminha para tempos melhores. Ainda há esperança. Conheço muito mais gente ordeira do que as afetadas pelo maligno. Um dia as pessoas que detém o poder pensarão de forma diferente e começarão por aceitar as suas próprias precariedades. Primeiro passo para superá-las.

Amém!

Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 26/10/2011
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