TRISTEZA, POR FAVOR VAI EMBORA, MINHA ALMA QUE CHORA ESTÁ VENDO O MEU FIM!

POEMA:

CAPITAL DO ESTADO:

Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.

Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,

nem desconfia que se acha conosco desde o início

das eras. Pensa que está somente afogando problemas

dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar

inquietação do mundo!

Mário Quintana

A primeira coisa que me vem à cabeça

É o ônibus partindo do interior

Para nunca mais voltar

Não dá pra ouvir uma batida sequer de sino nenhum

Nunca vi uma senhora caminhar à igreja com seu terço de rosário na mão]

Elas vivem trancafiadas dentro de casa com medo da rua

Logo da rua, o lugar onde é a melhor escola

No máximo vão ao mercado comprar cebolas e tomates

O trânsito é caótico, os ônibus são lotados, quentes, fedorentos e horríveis]

Jovens a beira de um colapso para passar no vestibular

Ou arrumar um emprego qualquer que lhe renda o aluguel

E mais carros pra lá e pra cá!

Assim como pessoas pra lá e pra cá enlouquecidas no centro da cidade]

Não tem sequer uma esquina para o cara conversar bosta

Com pessoas desocupadas

Mendigos em cada calçada a torto e a direita

Uma miséria muito maior

Ninguém conhece ninguém

Ninguém abre a porta pra ninguém

Ninguém oferece cafezinho a ninguém

Elas te olham feio na cara e te batem a porta na cara

Nem o carroceiro com seu jumento inocente carregando a carroça

Lhe oferece uma carona]

A capital do Estado é o lugar onde você trabalha, trabalha

Para poder comprar uma casinha, a compra,

Mas vai morar no meio da rua aprisionado no caos do dia a dia

Corretores de seguros e imobiliários vendendo sonhos,

Mesmo vivendo um pesadelo

Dentistas neuróticos

Médicos insolentes e agoniados

Porque perceberam que anos de duros estudos

Pra trabalhar em hospital público foi uma roubada

Tudo por culpa de políticos canalhas

Tai é o que a capital mais tem a ver com o interior: POLÍTICOS CANALHAS!

Há também advogados trambiqueiros abrindo letreiro

Em qualquer moquifo mequetrefe

E engenheiros construindo canteiros de obras que não servem pra nada]

A não ser para atravancar a paciência das pessoas

Lojas de carrões e uma porrada de grandes empresários lobistas

E sonegadores de impostos

Flanelinhas

Baleiros

Moto-boy’s desgovernados

Enquanto isso, eu continuo do botequim do seu Tião

Jogando sinuca e tirando retrato da vida

Com poemas amargos tal qual a dose dessa cachaça

Que o Tião vai me botar fiado... Quero entornar:

“Porra, Tião, bota mais uma chamada dessa porra pra mim aí

Também me trás lingüiças e uma quarta de queijo de manteiga

Vá lá...”