O pobre e o rico cariocas

O pobre e o rico cariocas

A vida no Rio, sim o de Janeiro, é um mito pelo Brasil a fora. Muito se fala, muito se teme, pouco se sabe. Dizem por aí que não se pode ter relógio. Não pode usar Adidas, Nike, Lacoste nem pensar! Vê se pode! Dizem também que não se pode sair à noite, e que tem de andar vigiando os bandidos. Não se pode ter carteira. Andar de ônibus é um terror. Carioca é folgado, marrento e dispensa o labor.

O pobre carioca

Dia de semana no Rio, sim o de Janeiro, sai o pobre carioca na vida de pura adrenalina e muita diversão. Logo cedo pega o baú, mesmo na matina já lotado. Entra pela porta de trás, e ao entrar, o drama: Espreme aqui, soca ali, empacota lá, esfrega as narinas na axila doutrem, e funga os pêlos suados, aspira o pó que sai da nuca do mal cheiroso, ou das donas de cabelo banhado com creme vencido. E dá bom dia feliz da vida, na garantia do domingo de praia, do sol despido. Logo à frente aquele engarrafamento infernal, carioca já acostumado, come globo ou pipoca, na moral. Sempre a rir, com os dentes completos, ou na falta dos atacantes, pouco importa, é o Rio, e ele é carioca. Quando chega ao serviço, sempre alegre como costumeiro, brinca com o porteiro - se este não o for - cumprimenta todos na portaria e no elevador. Comenta honrosa, a vitória do próprio time, e goza a derrota do perdedor. Sempre debochado, piadista, vive a vida de humorista, pois carioca que é carioca, é bom curtidor.

Assim ele é (o carioca): Tira onda, é marrento, mora no Rio e é brasileiro, é pobre, mas tá maneiro! No barraco despencando do morro, a vista litorânea invejada. Com dvd, ar condicionado, tv por assinatura ou parabólica... Assim o pobre ri com suas cólicas.

No centro da cidade, aquela correria, quanta gente, naquela orgia. É rico e pobre juntos lado a lado. Bar de executivo e boteco de mendigo, todos juntos, naquela correria do centro da cidade.

Finalzinho de semana, de praxe o churrasco na laje. Vai a rua inteira; tem arroz, farofa, salpicão, mousse de maracujá, e muita coca-cola. A garotada e os coroas se misturam a soltar pipa, pois há um lema: Mais vale a pipa na laje do que o salário de diretor. Dia de domingo, religiosamente, é dia de maraca. Leva o pai os garotos à paixão do futebol. Vai a moça e o idoso, na torcida ululante, e se esbaldam de emoção; no Fla-Flu, o clássico mais charmoso.

Entre cariocas não há corpo mole nem fiador, carioca pobre trabalha, mas é zoador - Não deixa escapar um final de semana na praia. Pega aquela Belina velha, maltratada, com os bancos cheios de fungos e bactérias, aloja 12 cabeças dentro da coitada: A mãe, os três filhos, os moleques atrevidos - amigos dos filhos - magrelos e atentados, com a cabeça para o lado de fora da janela, a sogra com 115 quilos de rabugice, a amiga da mulher, abandonada pelo marido, o primo mais novo, os dois sobrinhos queridos, e lá se vai a Belina a pedir arrego. Lá na praia é pura festa. Compra água de coco, coca-cola, paga até pro vizinho de barraca, tem cuscuz e sacolé. Os moleques atrevidos pulam n’água como pangarés. Sempre a rir com a dentadura limpinha ou com a gengiva careca, vive assim o carioca a qualquer época.

O rico carioca.

Em dia de semana, estressada é a cidade, carioca é de bem com a vida. O rico sai do ap. da zona sul em direção à Lagoa, aquela mesmo, a Rodrigo de Freitas; senão, corre esbelto nas calçadas do arpoador ou freqüenta o Jóquei Clube sem escudo, sem temor. No final de semana, mancebo ou ancião, pega a prancha - ou vai na mão - não importa, é final de semana, é praia, meu irmão!

Com motivos pra rir, carioca rico vai à praia, toma sol e açaí. As jovens esbeltas esculturam a cidade nos calçadões de Ipanema, Barra, Leblon e Copacabana, ouvindo diskman, se preparando pra semana. No feriado, é Cabo Frio, Arraial ou Angra dos Reis, família nobre vai aos três. Não se falta ao shopping, sempre lotado, gente arrumada, lojistas educadas, bonitos fregueses. Seja no Barra Shopping ou Fashion Mall: Rico ou pobre, o que não falta é o futebol. Tem também a turma do futvolei, e do frescobol, tanto faz desde que seja carioca e faça sol.