Dia de Futebol
Não tenho nome de crack do mundo futebolístico, mas também não faria jus ao nome, se tivesse. Quando aqueles meninos perguntaram meu nome fiquei até receioso em dizer apenas "Wilson", pois todos eles tinham apelidos, alguns até muito engraçados, como "Piqueno Ronaldo" e "Neymarzinho". A maioria dos moleques era bem mais jovem que eu, com seus 15, 14, 13, 12 ou até 11 anos, como era o caso do "Piqueno Ronaldo", mas resolvi me unir a eles e correr atrás de um único objetivo: o gol!
O campinho de futebol que fica a a uma quadra da minha casa não é lá essas coisas, a grama deu lugar ao capim, em partes sim, outras não, e a regularidade do terreno também era bastante discutível, mas por sorte estamos na primavera, e pelo menos poças de água não faziam parte do cenário. Além disso, a bola era velha e o couro desfiava a cada grande chute ou pressão, mas de resto, o "povinho" (pela estatura dos moleques) era bastante receptivo, e me permitiram jogar também.
Quando foi a hora de eu entrar em campo, bem, devo admitir, fiquei até um tanto nervoso. Ora, aqueles meninos pensavam, pelo meu tamanho, que eu sabia jogar bola, e que seria uma grande aposta. A bola rolou.
Três contra três, e um único goleiro para defender as duas bolas, o "Piqueno Ronaldo" estava no meu time, além de outra de estatura mediana, o Robinho. Do outro lado, o "Vascaíno", o "Negão" e o "Neymarzinho", e no meio do gol, o goleiro do qual não me lembro mais o nome, mas um bom goleiro, diga-se, de passagem!
De todos em campo, quem mais correu foi eu, o que mais batalhou também, apesar de ter pego na bola incríveis únicas duas vezes, uma delas com o ombro, quando tentei cabeceá-la para o gol. Marcaram o toque. Mas o mais impressionante foi o banho que "Neymarzinho" me deu, como pode um mulequinho daquele ter feito aquilo? Lembrei que quando eu era criança não tinha essas habilidades, e fiquei com uma pontinha de inveja.
Com um magistral lançamento do "Vascaíno", "Negão" abriu a conta com um golaço por cobertura, depois do goleiro ter trabalhado uma barbárie a nosso favor. Nós íamos perder, afinal, eram praticamente três contra dois, e assisir ao jogo dentro de campo era ainda o que eu poderia fazer. Ainda faltava um gol para eles encerrem a partida, pra gente, faltavam ainda os dois, fiquei desmotivado.
Alguns minutinhos depois meu ritmo de correria baixou, e fiquei cada vez mais observando o jogo correr. Atrás do gol, os outros moleques que queriam entrar, esperando o momento daquela bola entrar no gol novamente. Sentia o sangue ferver a cada novo drible tomado, e a cada grito da "torcida", e me perguntei o que eu estava fazendo ali.
Finalmente, por um descuido de "Piqueno Ronaldo", que perdeu a bola na pequena área, "Neymarzinho" consegue acertar um belíssimo chute rasteiro, no canto esquerdo do gol. Era dois a zero, e o final daquela partida. Nós perdemos.
O sol já havia se posto, mas aqueles meninos bons de bola permaneceram por lá, famintos por novo jogo, enquanto o cansaço batia meu corpo, e o juiz apitava "Fim de Jogo" pra mim. Quando ia embora, agradeci aos "carinhas" que me deixaram jogar, pelo menos ser cortês era uma obrigação. "Vascaíno", de longe, acenou positivamente, e disse sem maldade quase gritando: "Amanhã o senhor vem de novo que nós joga".