Cachoerismo
"São João, São João dos carneirinhos
Você é tão bonzinho
Fale com São José
Fale com São José
Peça pra ele me ajudar
Peça pro meu milho dá
Vinte espiga em cada pé"
Batizamos minha filha, aos pés da Cachoeira dos Pretos, entre Minas e São Paulo, com quatro gerações presente: bisavô-padrinho, avós, mãe e Pai, madrinhas e sobrinhos.
Apresentação: "olha aqui mundo meu, minha filha nascida".
Presente: só gente querida, amada que adora minha filha.
Não teve churrasco, nem teve padre, nem pastor, mas havia Nosso Senhor, Nossa Senhora, água benta jorrando do rio de Piracicaba, água benta colhida pelas avós, Graça e Mara, que ecoando os antigos, cantavam:
" São João,
Peça a São José,
Peça pra milho dá
Vinte espiga em cada pé"
Tradição e família, a avó Mara explicou que sua bisavó costumava cantar essa canção para as filhas dormirem.
Ancestralidade, meu avô, padrinho da Vitória, benzendo a minha filha e pedindo a todos os presentes para rezar.
Religiões, madrinha Umbandista, madrinha Evangélica. Avó cantando para Oxum, Avó cantando um Salmo 23 em palmas.
União. Minha filha juntando o injuntável: macumbeiros e crentes, todos na mesma corrente, em puro amor à minha Jureminha.
Melhor não poderia...
Ver a água da Mãe das Cachoeiras percorrer a cabecinha da minha bebê, vendo as duas madrinhas, irmãs-amigas, e toda aquela gente, tão querida, participando de tão familiar ritual.
União!
Acabamos todos numa mesa de madeira, compartilhando uma grande refeição, enquanto em meio ao sono profundo, minha filha dormia os sonos dos justos, depois de ser devidamente introduzida ao mundo, como manda a tradição, como manda a família, e como pedi a Deus que seria o "batismo" dos meus filhos e foi, o batismo da minha Jureminha.