ONU anuncia sedes do fim do mundo

Se o leitor está me lendo, é bem provável que o mundo não tenha acabado. Ou então, mesmo após o seu fim, temos acesso à leitura de textos despretensiosos como a crônica – o que sem dúvida é a melhor resposta que podemos dar aos críticos literários. Mas admitindo a hipótese de que o mundo continua dando as caras por aí, significa que o velhinho daquela seita americana – Family Radio, para você que me ler no futuro – errou de novo. É a terceira vez que os seus cálculos falham, razão pela qual todos devemos desconfiar da matemática. Enfim. Não sei o que será da vida do velhinho, que parece realmente desejar uma data limite para que façamos o que deveríamos fazer sem nenhuma.

Talvez pensando na possibilidade do fim do mundo, a Fifa divulgou um dia antes a escolha das sedes para os jogos da Copa do Mundo no Brasil – provavelmente para não impedir a alegria da torcida do Corinthians em ver o seu estádio escolhido para o jogo de abertura do evento. Brasília também pretendia, mas por fim se contentou com a abertura da Copa das Confederações e um jogo da Seleção na primeira fase – a fase mais importante da competição, só perdendo para os jogos da fase eliminatória.

A proximidade entre os dois eventos – anúncio das sedes da Copa e o Fim do Mundo – é praticamente um convite à piada. Cinco meses atrás, na primeira data prevista pela Family Radio, o gracejo que mais circulou pelas redes sociais foi que a de que o Fim do Mundo havia sido cancelado no Brasil porque o nosso país não tinha condições de sediar um evento desse porte. É bem possível que tenham repetido a piada, menos o Rafinha Bastos, que provavelmente seria processado até pelo velhinho.

Da minha parte, eu apenas imagino o que aconteceria caso o Fim do Mundo acontecesse também por sedes – um terremoto aqui, um tsunami ali, uma destruição acolá. Tudo entrando em colapso a partir de localizações específicas. Não tenho dúvida que, houvesse possibilidade de escolha, a ONU acharia melhor que o fim do mundo acontecesse no Terceiro Mundo, que é apenas um outro nome para a mesma coisa. E como só nos falta sediar as Olimpíadas de Inverno, seria um simples passo até que o governo brasileiro decidisse também se candidatar para o Fim do Mundo.

Haveria polêmicas. E muita politicagem. Estamos no Brasil, pô. Brasília certamente iria querer a abertura – o primeiro estouro, o primeiro terremoto. O que não deixa de ser coerente, pois em Brasília começa o fim do mundo de muita gente. O Rio de Janeiro não abriria mão da destruição final e o início do Juízo, aproveitando a proximidade com o Cristo Redentor. Curitiba provavelmente estaria envolvida em disputas internas, e teria que se contentar com estragos preliminares. São Paulo construiria obras improváveis, apenas pelo gostinho de ter as maiores ruínas do país. Manaus cederia a sede para o Pará, que não faria mais do que terminar a sua usina hidrelétrica.

Já Fortaleza, e Cuiabá e... Já fui muito longe. Acho que aquela piada da falta de condições para sediar é de menos mau-gosto.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 24/10/2011
Reeditado em 24/10/2011
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