Menina solitária


Quem vive na solidão não houve o eco de nada, a não ser o de sua voz.
 

Sempre gostei de colocar beleza em tudo. Se as pessoas são feias, eu as enxergo bonitas. Todos possuem uma beleza particular. Alguns são mais bonitos fisicamente; tem gente tão bela que nossos olhos brilham ao admirá-las. Outros são lindos por dentro - e é isso que mais me atrai nas pessoas.

Apesar de gostar de ver as meninas de hoje em saltos tão finos e altos, só de pensar em usá-los eu já me esborrachei no chão! Prefiro usar meus saltinhos baixos, colocar um lápis nas sobrancelhas e em torno dos olhos e nunca me esquecer do batom.

Num evento social recente tive o prazer de estar com um dos flautistas mais belos que já vi. O que mais eu achei incrível nele é o carinho com que trata a minha amiga Maria do Carmo, companheira de suas apresentações. Música, poesia, prosa... São lindos demais. As pessoas estão acostumadas a tirar fotos muito iguais. Pois é, este rapaz posou para uma foto com a minha amiga que me deixou encantada. Onde existe o amor puro existe a beleza. No meio de tanta gente, a grande maioria é só. Por isso gosto de retratar a alegria e cores no rosto das pessoas.

Quando cada um de nós vai para suas casas, eu penso na imensidão de estar sozinho, de não poder contar com um gesto legal, uma conversinha no café da manhã, contar para alguém como foi o “baile”. – Quando éramos “sete”, acordávamos no domingo e conversávamos sobre o baile da noite anterior. Era um momento especial.  Alguns de nós foram agraciados pela convivência familiar, ainda que pequena. Mesmo que tenhamos tido amores, entre eles os filhos, cada um segue o seu caminho, forma sua família. Nada podemos fazer para impedir o curso normal da vida.

O bom de viver sozinho é que você pode fazer tudo que desejar, que não haverá ninguém para observar a sua vida. Não haverá reclamações, críticas, cara feia, mau humor, inveja, agressões sem sentido. De outro lado, não haverá partilha, beijinhos, risos soltos.

Quem vive na solidão não ouve o eco de nada, a não ser o de sua voz. É necessário ligar o rádio, ligar para o vento, deitar-se em total abraço com seu próprio corpo.

Quem vive na solidão acorda conversando com o seu Deus, porque a religiosidade nas pessoas sozinhas é bem mais forte e nem é preciso citar estatísticas para ter certeza disso.

Quem vive na solidão – e consegue lidar com isso sem que seja necessário chorar todos os dias – faz poesia, lê, assiste bons filmes, compra frutas na feira, sonha, dorme. Ou não faz nada. Eu prefiro fazer tudo para burlar esta minha inimiga verdadeira que se apossou, teimosa, da minha vida. Na maioria das vezes, eu consigo. Nas vezes que sou derrotada, penso e penso e sempre descubro uma maneira de jogá-la pro alto.

Quem vive na solidão pergunta a seu Deus o porquê de estar tão só. Fiz um acordo com Ele hoje. Se já ri, amei, vivi intensamente, me apaixonei algumas vezes, beijei quem eu desejava, abracei todos os amigos, pedi a benção durante anos a fio, trabalhei e ainda trabalho e já passei com nota dez por todos os “karmas”, acho que é absoluta hora de rir da solidão, até quando fico doente e não consigo sequer levantar da cama com a vitalidade que sempre me acompanha.

Mas não me preocupo... Amanhã levanto e começo tudo de novo.
 


Domingo de outubro 23, 2011
"Sempre aos Domingos"
 
 Fotos Google


 
 

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 23/10/2011
Reeditado em 24/03/2012
Código do texto: T3293202