Dona Doçura
É uma senhora, igual a tantas outras, gorda, vestido escuro, cabelos brancos, que passa todos os dias por volta das oito da manhã, pela minha rua.
Gostaria, na minha eterna curiosidade, de saber seu nome. Como não sei, dar-lhe-ei um. Tem o ar doce das vovós bondosas, e por isso chamar-se-á Dona Doçura.
E, a curiosidade ainda insatisfeita, pergunto-me: aonde vai D. Doçura todas as manhãs? À missa? Às compras?
Qualquer dia eu a sigo. Qualquer dia. Hoje não, que estou cansada. Amanhã talvez.
Com o correr dos dias minha história de D. Doçura espalha-se. E, por a mais b, fica provado que a curiosidade não é uma prerrogativa exclusivamente feminina. Alguns chamam-me de biruta, desocupada, mas também começam a observar D. Doçura.
Seguiram-na, um dia.
Aonde vai? Aonde não vai?
Quem? D. Doçura? A bondosa vovó de rosto suave, que me deu fama de biruta e de desocupada?
Ora, D. Doçura, uma mulher como tantas outras, vai, diariamente, ali ao bar tomar o seu traguinho.