O TROGLODITA VIRTUAL 




Comemorou dezoito anos conectado à internet. Visitante anônimo de blogs, desenvolveu uma espécie de compulsão por comentários ofensivos. Suas "análises sádicas" poderiam tirar o sono de alguns blogueiros ou despertar a compaixão em outros que o imaginaram patético, além de inspirar personagens tragicômicos naqueles com senso de humor. 

O mais instigante nesse personagem sem nome, nem limite era a total ausência de autocrítica. Não se importava com os textos, nem escrevia uma linha sequer sobre ideias. Suas colocações ácidas giravam em torno do terreno pessoal, incapaz de compreender que a crítica busca reconhecer o valor de uma criação. 

Quando um olhar é crítico detecta e sinaliza a lacuna do sentido na elaboração de uma ideia. Demanda tempo e atenção - que ele nunca teria a oferecer - ao que foi escrito. Seu ritual obsessivo consistia em "analisar" a foto do autor, atribuir comportamentos e tecer interpretações avassaladoras sobre a personalidade alheia. Nem Freud explicaria tamanha vocação para o delírio.

O troglodita virtual criou seu próprio paradoxo: vivia cercado por tecnologias avançadíssimas, sinal da capacidade do pensamento humano, mas parecia regredir à pré-história, comportando-se, no trato com o outro, como um homem das cavernas.


 


(*) IMAGEM: Google

 
http://www.dolcevita.prosaeverso.net

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 21/10/2011
Reeditado em 22/11/2011
Código do texto: T3290513
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