O velho e o novo, de novo
Dentre as mensagens dúbias e incompreensíveis com que os adultos brindam as crianças que estão chegando ao mundo temos esses velhos e horríveis ditados.
Meu pai era mestre em piadas que as crianças não entendiam. Cansava de dizer; “vou te mostrar com quantos paus se faz uma canoa”, ou “escreveu não leu o pau comeu”, e, a campeã da incomunicabilidade, “pão, pão, queijo, queijo”.
Tive o cuidado de nunca falar nenhuma dessas preciosidades para o meu filho, mas mesmo assim, fui surpreendido no último fim de semana com uma queixa dele; “sabe, pai, acho que tem uns dez anos que você não concorda com nada do que digo”.
Percebo agora que por mais que queiramos educar os filhos com amor e carinho, sempre existirão motivos para queixas, as novas gerações querem, sempre refazer os caminhos que nós já desbravamos como se estivessem vivendo a aventura pela primeira vez.
É claro que ninguém poderá descobrir a América de novo, nem haverá uma nova corrida de ouro na Califórnia. Poderão, no máximo, acabar de destruir a floresta amazônica, se é que isso é uma grande aventura, ou conquistar novos planetas. Por enquanto contentam-se em se vingar nos presenteando com esses dispositivos super modernos que não dominamos. Assim, meu filho me presenteou com um i-pod, um gadget miniatuarizado que é capaz de gravar músicas em MP3 e chupar dados de um computador. Cabe na palma da mão é tem tudo para acabar com a minha banca de grande entendedor do mundo. Ai, esses pequeninos aparelhinhos e seus botões pequenos que não enxergamos.
Eu, que sou do tempo do rádio transistor, que era o máximo em modernidade, nunca vou conseguir dominar o i-pod, nem os controles remotos de hoje. Nesse ponto sou um reacionário, cujo grande sonho acabou de se realizar: construí um fogão de lenha, com forno e tudo, e assei uma pizza, massa feita por mim.
A pizza ficou ótima, meu filho também achou, e me orgulho de estar jogando fumaça na atmosfera. Ora bolas, as florestas queimando, as indústrias do petróleo emporcalhando o mundo, e eu queimando lenha das minhas próprias árvores. Galhos secos, folhas, casca de coco, pedaços de bambu, vai tudo ser devorado pelo meu fogo abrasador. Farei minha própria comida, passarei o dia catando e rachando lenha, nada de muito moderno.
Espero algum dia entender na carne o significado de “pão, pão, queijo, queijo”, ao menos para poder fazer uma boa pizza. Tudo escutando nos fones do i-pod os velhos sucessos do Chico Buarque.