As letras do Holliday*
O edifício Holliday, um marco da arquitetura moderna em Recife, foi construído em 1957 com 17 andares de apartamentos e kitinetes. Nos anos 50/60 quem tinha um imóvel em Boa Viagem era sinônimo de luxo. Aos 19/01/97, sob o título “Holliday”, o Jornal do Commercio publicava: “Fui informado nos anos 50, através de uma moça que residia no edifício Holliday...” (transcrevo mais adiante), o que resultou no fato de um cidadão procurar me desmentir em relação ao período citado (anos 50), chegando o mesmo a dizer que o dito edifício fora projetado nos anos 60! Ora, ao mencionar anos 50 (eu não tenho certeza se tinha 16 ou 17 anos de idade, porém, em junho de 1960, com 18 anos, servi na então 7ª Cia de Polícia do Exército, na Cabanga), neste caso, o referido edifício realmente já existia (conforme documentação – certidão solicitada – 1957), cuja documentação não quer dizer nada, porque era de praxe os prédios já construídos e habitados naquele tempo serem projetados depois de alguns anos. Assim mesmo, não foi o caso do Holliday. Por sinal, o Holliday era tido nos anos 60 como um antro de prostituição devido ao fato de muitos homens casados abrigarem as suas jovens amantes naquele edifício, cujo exemplo mais tarde veio a se repetir com o Califórnia. Até hoje ainda são duvidosos! Muitos falsos moralistas deixam de freqüentar os referidos prédios, até porque muitos eram da alta sociedade e deixaram as suas amantes sem condições de se manter. Houve, então, muitas “invasões” de outros canalhas, que continuaram corrompendo as mocinhas ingênuas, sobretudo as do interior e empregadas domésticas.
Em 2008, sem especulação imobiliária, comprei à vista um kitchenette no referido edifício, prédio de moradores de baixa renda bem no coração de Boa Viagem, no qual estou digitando esta crônica. Paro e, com a vista privilegiada, observo à frente, a praia e a imensidão do oceano... Bom, volto ao notebook e transcrevo: “Holliday”...
Fui informado nos anos 50, através de uma moça que residia no edifício Holliday (localizado na rua Salgueiro em Boa Viagem ), que o referido edifício tinha a forma de um ‘C’ porque os supostos proprietários eram dois irmãos estrangeiros cujas iniciais eram ‘C’ e ‘U’, de nomes até então desconhecidos. Na arquitetura, o ‘C’ e o ‘U’ deitados formam uma pornografia em vista aérea. Automaticamente, as autoridades proibiram a construção do ‘U’, ficando o ‘C’ abandonado... A moça que me informou deve saber os nomes dos dois irmãos. O difícil é encontrá-la. Até hoje, as autoridades não resolveram o problema do Holliday, que ainda permanece como ponto de referência, como antes era a Casa Navio (hoje, demolida) e poderia muito bem ser o cartão-postal de Boa Viagem, com a sua forma de ‘C’”.
* Extraído do livro “Miscelânea Recife”, ed. 2001– pp. 73-7 – Meu JC – 04/02/2008.