João Satanaz

João de Deus é um nome que me trás más recordações. É de um senhor que conheci há não sei quanto tempo e que de Deus possuía somente o nome. O resto era tudo diabo. Até agia igual ao Demo. João vivia de braços dados com a morte; com a morte de indefesos animais. Nem mesmo sei se ele era o animal homem ou o homem animal. Sei sim: de animal ele não gostava de outro que não fosse ele mesmo. Dos demais pouco se importava subtrair-lhes a vida. E isto tem mais de Satanás que de Deus.

Ele caçava animais para vender as peles e, dentre os mais caçados, estava o gato. Tanto o doméstico quanto o silvestre.

As peles dos felinos eram vendidas para as fábricas de instrumentos musicais. Serviam para a confecção de instrumentos tais como pandeiros, cuícas, tamborins, atabaques, etc. O couro dos gatos servia para animar os carnavais, as rodas-de-samba. Como ainda hoje acontece.

Duvido que o nosso João de Deus, esse temível terror dos indefesos animais, tivesse se colocado no lugar de um daqueles seres, suas vítimas prediletas. Jamais se imaginou sendo um gato, cujo couro viesse a ser usado num tamborim, pandeiro ou mesmo num atabaque, tomando catiripapos rua acima, rua abaixo pelas mãos de milhares de satanases, ainda hoje agindo como ele.

Ou até de maneira mais exótica, como é o caso de quem atira nesses indefesos seres somente para testar a pontaria. Outros para se deleitar com o não menos pitoresco momento de suas quedas. Este quadro macabro certamente os diverte. É muito simples se divertir à custa da vida de seres indefesos. Mais simples do que se pensa João!

Mas talvez você não soubesse que tal prática seria continuada por milhares de seguidores, espalhados por aí devastando nossas fauna e flora, indiferentes a artigos e decretos.

Você talvez não soubesse João Satanás - é isto mesmo João, a partir desta ligeira reflexão sobre sua mísera e suja personalidade assim o chamarei, pois mais você não merece - que com sua atitude mesquinha estava apenas provando um fato: o desmedido egoísmo humano. Você cumpria o desejo inconsciente do Homem em habitar, somente ele, o planeta Terra. Mesmo que para tanto seja necessário extinguir todas as demais espécies.

O Homem não quer concorrentes, João. E você talvez não soubesse disso.

*Crônica publicada no SEI/PM nº37 de 13/09/1974 e no livro o Homem que Invultava, em 2008, de minha autoria.

Valmari Nogueira
Enviado por Valmari Nogueira em 21/10/2011
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