Arroz e ternura
(O poder da palavra)


Dona Thereza é uma referência. Tem uma capacidade de atração quase inexplicável. Sua casa sempre cheia, talvez devido à combinação de mãos santas, mesa farta, gestos calmos e palavras amigas. Dona Thereza tem no nome também Paganini, misturando santidade e música numa coincidência mais que apropriada.

Convivo com ela quase há tanto tempo quanto conheço a filha. Dizem as boas línguas que me casei com a Lúcia prá garantir essa proximidade e só não admito essa verdade por razões óbvias. Aliás, eu sei que tenho uma aliada incondicional que nunca vai perguntar o que aconteceu nem por que. Prá dar uma idéia de até onde vai essa cumplicidade: se algum dia num instante de insanidade eu declarar que passei a torcer pelo bugre, ela provavelmente vai dizer que sempre teve uma certa inclinação pelo verde e que a macaquinha já aprontou demais mesmo...

Minha sogra? Sim, minha sorte. Cuidou e cuida da Fabi e do Teto, da Silveca, de seus filhos, netos, genro, noras, bisneto e de quem mais chegar.

Irradia serenidade em qualquer situação e tem um olhar bondoso e condescendente para todos os que tem a felicidade de conhecê-la. Esses mesmos olhos que já perderam a conta das operações que sofreram.

Se alguém busca uma pessoa boa em todos os sentidos e uma alma elevada a quem recorrer em qualquer situação, duvido que encontre melhor. Não vou enumerar exemplos desse desprendimento pessoal, pois ela é toda doação. Tão prestativa e inteligente que nos faz acreditar que não percebe o quanto é algumas vezes abusada...

Bem, mas se já falei da ternura, o que é que tem o arroz?

É que a minha sogra, muito jovem ainda com seus 81 anos, está sempre de mente aberta para o novo. Ultimamente, por influência da professora de hidro-ginástica (como se alguém pudesse ensinar a ela alguma coisa...) resolveu testar o poder das palavras.

A experiência é com duas porções de arroz cozido tiradas da mesma panela. Colocá-las em vidros separados e simplesmentes falar com ambas. Não esperem diálogo que arroz não fala, mas aparentemente presta uma atenção...

Aqui vai a receita da maneira de conversar com o arroz. Não precisa ser em voz alta e nem com agressividade:

Para um: "Como você é bonito, saboroso, branquinho, soltinho, faz bem prá saúde, cozinha fácil, é de ótima qualidade, custou barato, está bem temperadinho, todos gostam de você..."

E para o outro: " Você está mal cozido , cheirando mal, está azedo, prejudica a saúde, ninguém gosta de você, tem uma cor feia, tem gosto ruim , é de péssima qualidade, demora pra cozinhar..."

O efeito, após alguns dias repetindo esses mantras, é esse da foto ai de cima.

A minha conclusão é que o arroz bonito se manteve assim só pra continuar recebendo elogios ou prá não decepcioná-la. O outro, coitado, ficou com esse aspecto feio e decrépito por merecer críticas de quem nunca as disse. É mesmo demais prá qualquer arroz...

Acho que essa experiência comprova, muito mais que o poder da palavra, que no que depender de expressões e pensamentos bons de quem a conhece , Dona Thereza corre o risco de acordar a cada dia mais bonita e saudável.

Deus permita!

Leo
Leonilsson
Enviado por Leonilsson em 20/10/2011
Reeditado em 03/01/2017
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