"A NOIVA"

Acordou depois de uma noite mal dormida, o corpo doido, olhos cansados, tristeza na alma. Lembrou-se do que a esperava naquele dia, que deveria ser o mais feliz de sua vida, mas que para ela era o começo da sua infelicidade. A família toda estava em festa, corriam de um lado para o outro cuidando dos últimos preparativos, os presentes chegavam a todo instante, fazendo a alegria de todos e que era manifestado pelos risos escandalosos de suas tias. Casamento de conveniências, aquele enlace já programado desde sua infância, traria a melhor solução pra sua família sombreada pela falência nos negócios. Como sempre ela se sujeitava a vontade dos pais e dizer não era coisa que ela nunca aprendera. O tempo de namoro durou pouco, pois sua família tinha pressa para achar a solução para tantas dívidas contraídas ao longo dos anos. O noivo era também uma marionete nas mãos dos pais, nunca tomava decisões por si, era um homem feio e de caráter duvidoso. Aos seus 18 anos, ela já tinha perdido as expectativas de uma vida feliz que poderia ter ao lado de um amor, só correspondido por olhares e por um único encontro as escondidas e que ficara para sempre na sua memória e no seu coração. O dia passou rapidamente, a cada instante chegavam pessoas que iriam produzi-la para o grande momento, que na verdade para ela era o pior de sua vida. A poucos minutos do seu casamento estava ela produzida, ainda mais linda que nunca, provocando elogios de todos. Desceu da limousine que a conduzira até o local e apoiada por seu pai se pos diante da porta de entrada, foi neste instante que viu ao longe seu amado, por um instante se olharam e ela sentiu seu coração disparar, teve vontade de correr para seus braços, mas se conteve, não teria coragem nem forças para tamanha ousadia. Abaixou o olhar entristecido pela dor deste amor que nunca seria vivido e em passos lentos subiu as escadas. Com um sorriso encenado, entrou na capela onde uma multidão de convidados a esperava ansiosos, o caminho pelo corredor da capela mais lhe parecia naquele instante o corredor da morte, seu noivo aproximou-se, tomou-a pela mão frágil e gelada e assim fora conduzida ao altar. Nem prestou atenção às palavras do celebrante da cerimônia, que parecia nunca ter fim, estava como que anestesiada, não conseguia pensar, aquilo tudo era uma tortura. Reunindo suas ultimas forças pronunciou o tão esperado “sim” e sentiu o beijo indesejado daquele que agora seria seu marido. Seus sonhos estavam terminados, nas suas fantasias idealizava se tornar a esposa de um príncipe e agora se via na companhia de um “sapo”. Lágrimas escorreram pelo seu delicado rosto, iniciava assim a dor de uma vida programada por conveniências da sua família e que ela pagaria a cada dia, o alto preço deste seu infortúnio destino.

Rosana de Pádua
Enviado por Rosana de Pádua em 20/10/2011
Reeditado em 20/10/2011
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