A escritora  do Piauí
 
 
 
 
                               Fui  na casa de ração comprar a alimentação mensal do meu gatinho.
                               Ando preocupado com meu gato. Explico: ele está com 16 anos, muita idade para o meu  felino  e começou um processo de catarata. Anda tropeçando nos móveis lá de casa.  Irei providenciar a operação dele, em Juiz de Fora, ou no Rio, mesmo.
                               Pois bem, quando ia fazer meu pedido, aparece uma mocinha com um cachorrinho,  bem gripado. O atendente, solícito, explica que é preciso examinar os pulmões do cão, no que exclama a mocinha: “ mas cachorro tem pulmão?”  -  Você não sabia? – diz o atendente. -  E olha, tem  dois pulmões. – Nossa, nem desconfiava. – Pois é, e tem até coração!
                               Minha amiga leitora,  você já me conhece, logo faço associações meio descabidas e enveredo pelos meus atalhos. Quando o cara falou em coração, lembrei-me do Piauí.  Se bem que o Estado do Piauí tenha mais um formato de estômago, sei lá! O Brasil é que tem formato de coração. E eu acho, sinceramente, que ele é o coração do mundo. Todos sabem  do amor que tenho pelo meu       país.
                               Agora, vá explicar porque  lembrei-me do Piauí.
                               Ah! desconfio que ainda hoje o Piauí é injustiçado, ele é pouco falado.
                               Há uns quarenta anos, o Nelson Rodrigues teve o maior problema ao querer         elogiar o nosso Piauí. Em uma daquelas crônicas memoráveis,  ele dizia que o Rio de Janeiro  (tenho que falar no Rio, é difícil não falar dele) tinha de tudo, até carioca. Você queria um baiano, apareciam vários baianos. Mineiros então nem se fala. Eu tenho certeza que existem mais mineiros que cariocas. Continuando: você quer uma gaúcha, ou gaúcho, aparecem aos borbotões. Cheguei até fazer amizade com o Brizola...
                               Nessa  brincadeira, ele, o Nelson, constatou que até amazonense ele conhecia, dois apenas, mas conhecia. Ficava  espantado de conhecer um acreano, o Armando Nogueira.
                               Aí surgiu o problema para ele. Ele foi dizer que com muito esforço conheceu um piauiense,        que tinha espinhas.
                               O  nosso Nelson recebeu       um  telegrama do Governo de lá em  repúdio pela menção do rapaz com espinhas.  Teve que ir àquele Estado   conhecer   os intelectuais de lá. O Nelson morreu com a convicção de que a zanga  foi ele ter dito que o moço do Piauí tinha espinhas.   E foi aconselhado a não escrever mais bobagens.
                               Meus leitores e minhas leitoras, nem sei mais porque estou falando tanto do Piauí.  Ah! agora me lembro. É que quero apresentar uma boa escritora de lá.  Está aqui entre nós e outro dia tive a felicidade de conhecê-la. É da Parnaíba, não é da capital Teresina.
                               Gosto de “garimpar” aqui no Recanto das Letras e vibro quando encontro um bom escritor ou escritora. Ela não precisa de apresentações, nem o Piauí é mais aquele do tempo do Nelson. Mas é com prazer que apresento Maria Dilma Ponte de Brito, Mestra em Educação e professora universitária, com livros publicados.
                               Ela nem sabe que estou  escrevendo sobre o simpático Estado do Nordeste,  e fazendo menção a ela. É um resgate, bem intencionado, brincalhão, que faço, recordando o tempo em que o Brasil era ingrato com o nosso Piauí.   Agora, com certeza,   a Maria Dilma  ficará muito surpresa de receber as  visitas  do Ciro Fonseca, Seminale, Roberto Rego e Paulo Rego. Nunca vi turminha pra gostar  tanto de fazer amizade!