Decantando
"Aos mestres cancionistas "
Passou o dia ouvindo canções. Adiara a decisão. Quem sabe descobrisse no ultimo momento...Mas já não havia tempo, não podia passar daquela noite.
Ninguém chora, não há tristeza ...
Na alvorada, nem no morro se sente dissabor. Pois era assim mesmo : o início das coisas; início do dia; de uma vida. Como uma criança brincando, soava a alvorada - No começo, tudo pode servir, pode ser bom, gostoso...
Mas ainda era ? - Ah, esse relacionamento...
Cismou de inventar o que seria um amor assim – Amor de alvorada que chega iluminando... Pensou, até, quantos desse teria vivido: amores de verdade, mas que não resistiam a pequenas mudanças no tempo, frágeis, exigiam sol à pino, mal se sustentando num abraço após o sexo.
Estacionara o carro perto da casa.
Como podiam ser tão confusos seus sentimentos? Um fim de semana inteiro pensando! Na verdade, meses entre trocas de olhares cheios de dúvida, já deviam ter servido de advertência. Era claro que pedia mais ...
Não queria machucar ninguém, nem se ferir... Sentiu medo.
Tinha-lhe pedido que não fumasse. Encostou-se à porta do automóvel, sem coragem de dar o primeiro passo, acendeu mais um, como em pecado - Seria aquele um amor maior, de resistir a vários tombos, de descobrir tempo pra refazer o que se desfez ? Por que as coisas se desfazem, isso é certo...
- Essa canção, sim, lembrava um amor diferente, desses difíceis de se achar, ou mesmo, de se acreditar que achou Algo capaz de ressurgir das cinzas, buscando as lembranças dos beijos, dos cafunés, das conversas, da música preferida, tudo: amor que recolhe todo sentimento e bota no corpo outra vez...
Ainda sem clareza, caminhou lentamente. Deu risada percebendo que diante saia tão justa, ainda arrumasse tempo para brincadeiras, pensou : se aquele era o amor de alvorada, esse do Chico seria O Amor do Ocaso: algo com sabor de fruta mordida, de conversa na varanda, de cuidar do outro quando a vida doer - Porque a vida dói , mesmo quando bem acompanhados, a diferença é que na solidão, sobra tempo para apreciar as dissonâncias...
- Quanta bobagem !
No fundo, sonhava com um amor assim, de reencontro no tempo da delicadeza, onde não se diz nada, nada aconteceu...Mas respirou... Respirou bem fundo... Subiu o ultimo lance de escada...tomando coragem, tocou a campainha...e esperou ... esperou ... até que um sorriso lhe abriu a porta.
- Oi !