"A EUTANÁSIA" Crônica de: Flávio Cavalcante

A EUTANÁSIA

Crônica de:

Flávio Cavalcante

Um assunto polêmico e muito debatido em vários meios de estudos. Perguntas sem respostas. Onde está o erro se houver o ato da eutanásia? Concebe-se deixar um irmão sofrendo até chegar a hora da sua morte natural, mesmo sabendo que se trata de um paciente terminal? Onde está a verdade quando na bíblia diz amai ao teu próximo como a ti mesmo? Será um ato de amor ver sofrimento de outrem sem poder aliviar, só por causa de pensamentos retrógrados de uns que acham que são os donos da verdade? Será que se eles estivessem nas mesmas situações do tal paciente não estariam eles pedindo “Pelo amor de Deus, alivia meu sofrimento”?

Eu me vi numa situação muito recente, com um problema de saúde na minha família. Minha mãe faleceu em 27 de dezembro de 2009 e a partir deste episódio repentino houve uma mudança brusca na rotina da família; pois ela era a maquina principal. A estrutura que sustentava os pilares da prole e meu pai, sempre demonstrou estar muito bem á ponto de confortar a todos com palavras de conforto, coisa que chamava a atenção de todos nós, por causa da dependência que ele sempre carregou na mulher que dividiu matrimônio com ele durante quarenta e quatro anos de sua vida. Percebia-se que na realidade ele estava vivendo uma farsa e tentava de todas as formas não transparecer a sua dor. Na frente dos filhos ele vivia um personagem nada agradável e que o consumia a cada dia.

Meu pai não quis sair da casa onde eles viveram todos esses anos. Desde o dia que a minha faleceu ele sempre dormiu na mesma cama e ficava trancafiado naquela imensa casa, onde ali deixou de ser um ambiente de amor e felicidade e se transformou em um depósito de lembranças e saudades. Imagino o que ele não deve ter sentido nas caladas da noite ao deitar naquele leito que outrora era um de amor intenso. A fortaleza daquele imperador não conseguia estar com suas bases firmes e aos poucos foi desmoronando, deixando-o debilitado e passado um ano do traspasse de sua amada, foi descoberto um câncer maligno e o pior é que já estava totalmente enraizado e nos exames constataram que aquele imperador que era uma fortaleza, acabara de perder todas as defesas e o mal acabou invadindo todo o seu palacete. Era um paciente terminal.

Fui avisado e saí ás pressas para Maceió. Os médicos haviam me falado da situação que ele se encontrava. Naquele momento que eu cheguei ao hospital ele Já estava tomando altas doses de morfina para não sentir dor. E a bomba mesmo foi quando um dos médicos me chamou em particular e me falou que ia chegar um momento que os remédios não iam mais fazer efeito e todo paciente na condição dele, grita de dor até a morte, assim que a morfina não tiver mais fazendo efeito. Entrei num estado de perplexidade ao ouvir aquelas palavras horrendas do médico, que falava de forma como se tudo fosse natural. Retruquei em desespero; falando para ele que não era possível que ele o deixasse ficar daquele jeito; que tinha que haver alguma forma de amenizar a dor e o médico insistira em dizer que não havia outra forma a não ser a da vontade de Deus.

Foi aí que eu falei para ele sobre a Eutanásia, mesmo com o coração partido de dor e ir de encontro a todos os meus princípios de vida. Mas ali era um caso especial e eu nunca imaginei que eu ia me deparar numa situação de pedir pra o médico fazer o que tinha que ser feito para aliviar o seu sofrimento. O médico me falou que ele não podia fazer tal coisa, pois, era crime perante as leis do país. E meu pai graças a Deus, faleceu no mesmo dia que falei com o médico de forma natural e praticamente sem sofrimento. Acho que Deus ouviu os nossos lamentos e deve ter pesado na balança o homem extraordinário que ele foi, resolvendo assim, aliviar seu sofrimento de uma vez por todas.

Diante da situação que eu passei tenho uma visão bem diferente da que eu tinha sobre a Eutanásia. Acho que deveria ser feito sim, nesses casos de pacientes terminais. Acho até um ato desumano deixar o paciente morrer gritando de dor só por causa de pensamentos retrógrado e sem sentido nenhum. Sou a favor da vida sim, mas também sou a favor da morte quando não se tem esperança de ter vida.

Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 19/10/2011
Código do texto: T3286828
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