(IN)SENSATEZ...
A tarde já ia alta,quase noite. Um frio úmido e cinzento servia de pano de fundo para a alma envidraçada/embaçada de saudades de um passado que fora abortado antes de virar futuro.
Havia dias em que se sentia estranhamente só, na verdade mais só do que de costume,apenas (sobre)vivia.
Olhava a vida passando ora lenta,ora em disparada correria de encontro ao futuro que nasce á cada presente que já acaba de ser pretérito,nem sempre mais que perfeito.
No vidro que separa a quase quietude da alma da agitada choradeira de gotas aflitas derramadas do céu, sorve cada momento em angustiada saudade do que viveu e pior: do que jamais irá viver.
Ouve o suspiro saudoso do pai que sorri com lágrimas nos olhos ao dizer :" sinto o cheiro de saudade no ar", quando se (re)lembra de bons momentos vividos.
Não entende a vontade que surge... se esconder nas cobertas da alma ou abrir suas vidraças/asas/pensamentos/entranhas e desvendar a saudade aflita.
Vê apenas os ponteiros se deslocando em uma dança/ritual eterno,que enovela os sonhos e a vida em teias irreversíveis .
Sente o arrepio frio da umidade relativa da alma e do ar,balbucia para si como a gritar ao mundo,preciso encontrar uma saída...
... saída de emergência.
Sabe intimamente que nem sempre há solução,nem sempre há um haver/ser/ter/poder. Sabe que nem sempre poderá haver um para sempre.
Mas na tarde/noite de primavera molhada, sabe que flores de estrelas vão brotar, ainda que regadas de lágrimas de saudades do que foi e principalmente do que deseja pudesse ter sido.
Fecha a cortina da janela e da alma e abre um soluço que traga do fundo do peito. Habita em seu universo aperreado de vazio,uma enorme (in)sensatez,chamada saudade.
Apenas isso. Não há como explicar !!!!!
Márcia Barcelos.