MÉXICO

Abandonada sobre uma das esteiras ergométricas da academia, ela estava lá.

Colorida, impressão esmerada em papel de muito boa qualidade.

Enquanto eu andava (sem sair do lugar) folheei-a aleatoriamente e um dos anúncios chamou minha atenção.

Em letras grandes, daquelas que dispensam os óculos, estava o convite para eu realizar o sonho antigo de conhecer o México.

Nos anos 50 do século passado, quando cursava o Ginasial (hoje não sei como se chama) mantive correspondência com uma mexicana (Maria Del Carmem – que morava em Lomas/Chapultepec, México DF)

O professor Gadelha, que ensinava inglês, chegara recentemente dos Estados Unidos e perguntou na sala de aula, qual de nós queria se corresponder com a filha de um também professor de inglês que morava na capital mexicana. Eu atendi prontamente e nossa correspondência durou por mais de dois anos até que sem nenhuma palavra de despedida, minhas cartas deixaram de ser respondidas. Mas o encantamento que sentia (e que agora sinto muito mais) pelo México e por seu povo, sua música, gastronomia, história e tradições, permaneceu.

Aquela revista era o passaporte para ver de perto tudo o que as cartas haviam falado...

Dia 27 de setembro saí de casa às 20h00 para ir pegar o avião no aeroporto dos Guararapes, cujo vôo estava marcado para as 23h59 (isso parece horário de trem inglês, não é mesmo?).

Em Guarulhos/SP a chuva fria e fininha nos olhava através das janelas de vidro. Embarquei noutra aeronave para Lima, capital do Perú.

Repentinamente os picos nevados dos Andes surgiram na janelinha do avião. Logo abaixo deles, a sequência de pequenos lagos formados pelo derretimento da neve e entre eles os filetes de água líquida que escorrem para dentro do Titicaca.

O comandante chamou nossa atenção para um deles, cristalino, onze mil metros abaixo de nossos assentos. É o nascedouro do maior rio do mundo em extensão e volume d’água.

O bebê Amazonas tem reflexos azuis.

No aeroporto Júlio Chaves, fomos saudados por um frio de 5ºC.

O café quente só serviu para queimar minha língua enquanto eu pensava nos 24ºC da noite nordestina que me viu partir.

Embarcados noutra aeronave cruzamos a linha do Equador no ponto 80º, 10’ 300 de longitude W e 0º, 00’ 300 de latitude S.

No aeroporto Benito Juarez fomos acolhidos com a cordialidade que caracteriza o reencontro de velhos amigos.

Funcionários da imigração, Polícia Federal e Aduana fazem o receptivo rapidamente, sem deixar de cumprir as normas de segurança e a conferência de documentos.

Deixei a mala no hotel e fui fazer o city tour...

A cidade estava enfeitada com lâmpadas coloridas, pois em setembro se comemorou os 200 anos da independência do país. Jantamos no restaurante giratório - Bellini - no 45º andar com a cidade brilhando lá em baixo. Fomos levados para a Rua Garibaldi, reduto das tradições. Os grupos de mariachi dos diversos estilos estão em apresentação permanente no espaço Tenampa – Onde se vive a tradição – noutro espaço assistimos ao espetáculo - Guadalajara à Noite - composto de danças de origem asteca e espanhola, canto, malabarismo com corda, simulação de briga de galos (uma das tradições ainda cultivadas apesar dos protestos das sociedades de proteção) que demonstra que nós, os animais humanos, temos a crueldade como principal característica e que sacrificamos os outros por puro prazer.

Duas doses generosas de margarita (tequila, limão e sal) e deu-se por concluída a primeira noite.

O México é muito rico em opções de passeios e diversão.

A cultura pré-hispânica está, aos poucos, sendo resgatada a partir dos fragmentos a que foram reduzidos os monumentos megalíticos pela ganância e estupidez dos invasores europeus que escudados num cristianismo às avessas, deixaram nas três Américas o rastro de destruição, violência e escravidão.

Sob a falácia da salvação da alma dos gentios, cometeram-se assassinatos das cabeças pensantes detentoras dos conhecimentos científicos que a Igreja Católica Apostólica Romana sempre temeu.

Templos foram saqueados, bibliotecas queimadas, mestres obreiros sumariamente eliminados para que o grosso da população, analfabeta e ignorante, fosse manipulada com facilidade.

E assim como no Brasil ou em qualquer parte do mundo aonde chega o flagelo do cristianismo, o povo mexica (que o europeu renomeou para asteca) foi dominado.

Sobre cada templo mexica foi construída uma igreja católica, usando o mesmo o mesmo material, numa clara demonstração do desejo de impor a nova doutrina e apagar a cultura nativa.

No parque zoológico participei da soltura de borboletas monarca num espetáculo deslumbrante de vida e cores.

Visitamos as pirâmides do sol, da lua e mais tantas que fazem a avenida dos mortos.

Vimos artesãos de obsidiana (o vidro de vulcão), conhecemos o agave que fornece linha para costurar e a membrana que se usa como papel. Desse agave se faz uma bebida de sabor azedo e de baixo teor alcoólico.

Conhecemos o cão asteca, negro e sem pelos. (Interessante, dócil, estranho e feio prá dedéu).

Nos doze dias da nossa permanência visitamos cidades de importância histórica como Morélia, Puebla, Patzcuaro (onde assistimos ao espetáculo “dança de los viejitos”), Santa Clara Del Cobre, Tzin Tzun Tzan (cujo nome se origina do som produzidos pelas asas dos beija flores), Guadalajara, Tlaquepaque, Guanajuato, Queretaro, São Miguel Allende, Cuernavaca, Taxo...

Por todo lado há uma igreja e alguém comendo os alimentos que são vendidos nas ruas, nas bodegas, lanchonetes, restaurantes, etc.

O taco é uma espécie de panqueca ou crepe, feita com farinha de milho (lembra a nossa tapioca) e se pode rechear com qualquer coisa.

Legumes, verduras, carnes, toucinho (chicharon), frutas, creme de feijão, queijo ou qualquer outro item da rica culinária mexicana.

Por causa dessa versatilidade o taco é o campeão disparado na preferência popular.

Chapolin (grilo frito com chili) tem sabor parecido com a nossa tanajura.

Vimos artesanato em barro, pedra, tecido, couro e agave; a forja onde se trabalha o cobre e a fabricação de tequila a partir do agave azul; o Popocatepetl soltando as fumarolas que justificam seu nome; as pinturas murais de Orosco; o palácio do governo; os museus de antropologia, arqueologia e de cera; basílicas e catedrais; uma passeata de protesto feita por estudantes; a troca da guarda do monumento nacional aos seus heróis; a estátua do deus Quetzalcoat (a serpente de duas cabeças) e a impressionante (até agora inexplicável) estampa de Nossa Senhora de Guadalupe.

Mas chegou o dia 9 de outubro e eu fui levado para o aeroporto, afinal tinha um roteiro a cumprir no Perú.

Essa crônica não pode terminar sem que se registre o profissionalismo, a cortesia e o preparo dos guias, motoristas e funcionários da Kezaltour, que não poupam esforços para que o visitante tenha a certeza de que estará seguro em todo território mexicano.

(CONTINUA EM PERÚ)