A mulher vaidosa.

A vaidade se resumia no banho tomado após um dia como dona de casa. Um dia como dona de casa se resumia no preparo do café da manhã do marido e dos tantos filhos, na limpeza da casa, na arrumação das crianças para a escola, no preparo do almoço, na retirada da mesa, na limpeza das louças, na lavagem de roupas, no ferro de passar, na recepção dos filhos e do marido -vindos de suas batalhas na escola e no trabalho, no preparo do jantar, no servir da refeição, na lavagem das louças, no ouvir das lamúrias de mais um dia de trabalho do marido, e das novidades das crianças. O banho era a vaidade única, um luxo para consigo mesma.

A TPM se dissolvia a qualquer hora do dia, na retirada das vísceras de um peixe para o almoço, ou no esfregar de uma roupa no tanque áspero, na costura de uma roupa rasgada, ou no sorriso de um filho, cuja febre ela venceu. Discutir relação significava conversar sobre o orçamento familiar, sobre as demandas das crianças, as necessidades do marido. Planos, era o de poder ter mais um dia como dona de casa, sem sustos, sem surpresas. Sonhos, eram de saúde, de poder ver os filhos crescerem. Felicidade, era saber que toda a família dormia em segurança, enquanto ela se dava ao luxo de se banhar.

A vida seguia o seu curso, e os filhos cresceram. A doença cobrou o preço por tanto labor, por tanto amor, por tantos cuidados com a família. A morte veio serena, e lhe deu o descanso merecido, e conservou em seu rosto o semblante de paz, sem nenhum vestígio de dor, culpa ou sofrimento. Seu exemplo, mais do que suas palavras, forjou pessoas de bem, que a colocaram no altar de suas memórias. Á ela, o marido logo se juntou; talvez, com a desculpa de um mal oportunista; na realidade, não suportou a ausência de sua esposa amada, de sorte a continuar, pela eternidade, com a sua vaidosa mulher.

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