Psicologia

A terapia é assim: tem dia que eu volto com respostas e tem dia que eu volto com mais perguntas. Por que é que para achar o caminho é preciso primeiro se perder? Por que é que para se conhecer é preciso se estranhar primeiro?

A psicóloga apronta uma bagunça danada na minha cabeça e no meu coração. Acho que é essa mesmo a função dela. Para organizar é preciso tirar as coisas do lugar. É preciso arejar, limpar.

Na primeira sessão, quando eu disse que achava os meus pensamentos organizados, ouvi: “ótimo, deixa que eu bagunço!”

Ela disse que no início cheguei lá com muitas verdades prontas e que agora consigo pensar em novas possibilidades. Disse também que antes eu pensava demais e que agora estou conseguindo viver mais. Ela disse que antes eu tinha necessidade de saber exatamente como será o futuro, ou seja, planejar demais, quando na verdade o futuro é uma surpresa. Tudo isso parece óbvio demais, mas para mim, reconhecer isso, foi um processo.

Já teve dias que saí de lá feliz da vida por ter enxergado coisas. Senti-me um verdadeiro Miguilim quando o Dr. José Lourenço pôs-lhe os óculos. Vi coisas que “nem não podia acreditar”. Mas também já saí de lá com um nó engasgado na garganta... vontade louca de chorar... e fui até o Morrinho de São João chorar tranquilo olhando Catalão do seu ponto mais alto.

Como li num livro outro dia, para mudar é preciso primeiro aprender a desaprender. É muito interessante deparar-me comigo mesmo. Ver-me pela primeira vez, despido das inverdades, sem a necessidade de interpretar personagens adequados. Sou eu mesmo, com minhas loucuras, devaneios. Falando, consigo me ouvir. Outra coisa que parece simples e óbvia, mas que é um processo rico e interessante, um verdadeiro exercício que tenho feito. E tenho visto resultado.

Ela me faz perguntas às quais não quer saber a resposta. A pergunta é uma intenção de reflexão. Uma condução à conclusão. Fico tentado a responder prontamente, mas aprendi lá que ainda que eu assim o faça, será uma verdade parcial. Porque não há uma única resposta para as coisas. Ou então uma resposta definitiva, imutável. E que o importante é o caminho percorrido desde a pergunta até as diversas possibilidades que se abrem a cada vez que nos dispomos a melhorar e a viver melhor.

Como bem dizia o comercial da TV Futura, “não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas.”

Neste período, como disse, enxerguei coisas que não via ou não dava valor, mas também deixei de ser assombrado por alguns fantasmas insistentes. Revi e refiz minha relação comigo mesmo e com a vida, e consequentemente com as pessoas. Mudei minha forma de ver o jeito que as pessoas me viam.

Mas a vida é um fluxo. O aprendizado, o que inclui o autoconhecimento, também é um fluxo. Incessante. Talvez tenha havido um começo um dia, mas não haverá fim, enquanto viver. É como respondeu Rubem Alves, que é psicanalista, quando uma moça lhe contou que “havia feito terapia e que agora estava resolvida”. Ele disse: “Quando se deu o óbito?”

(Catalão, 18/10/2011)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 18/10/2011
Reeditado em 26/10/2011
Código do texto: T3284703
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