OH, TULE CARO!!!

Meu pai era militar, mas nas horas vagas vendia seguros da Capemi, cortava, costurava e bordava na máquina Vigorelli as bandeirinhas das companhias do 3º Batalhão de Caçadores (hoje 38º BI) e quando se aposentou, virou fotógrafo profissional.

Com tantos exemplos, cada um de seus filhos aprendeu a fazer mais de uma coisa para sobreviver. Eu, por exemplo, consigo lecionar diversas disciplinas, tenho experiência como gestora de escola e de cursos de licenciaturas, e sei fotografar profissionalmente desde os 17 anos.

Se eu disser que ainda curto ficar registrando festas é mentira, mas produzir e fotografar crianças, grávidas, moças e famílias são uma grande diversão para mim. Gosto tanto que, quando eu viajo para o exterior ou para as grandes capitais, meus olhos só procuram flores, rendas, tules, veludos, bijuterias, echarpes, estolas, chapéus... tudo de muito bom gosto para enfeitar os meus modelos.

Nunca estou satisfeita com o que tenho, minha cabeça vive inventando cenários, poses e suportes, mas como nem sempre posso comprar pessoalmente, costumo encomendar, como o fiz recentemente com o meu primogênito que reside em Niterói e iria, de ônibus, a São Paulo assistir a uma ópera: “Filho, na manhã seguinte dê um pulinho na Rua 25 de março e compre 03 metros de tule nas cores azul clarinho, rosa bebê e amarelinho.

No sábado pela manhã, meu celular tocou e ao atender ouvi: “Taran, taran, taran...Taran, taran, taran...Chamada a cobrar. Para aceitá-la, continue na linha após a identificação! Pinhommm...” Pensei enquanto ouvia isso: “Quem será? Vagabundo ligando de dentro de presídio?”

De repente ouvi: “Mãe, estou aqui na Ladeira Porto Geral e já encontrei uma loja cheia de tule. De que tipo mesmo que você quer” Respondi-lhe: “Leifinho, o que houve com o seu telefone? Por que ligação a cobrar?”, ao que ele respondeu: “Devo ter dado mole na viagem, a cadeira do lado estava vazia, deixei minha mochila sobre ela, dormi e só fui descobrir que estava sem meu aparelho quando fui colocá-lo para carregar”.

Não quis alongar a história, então perguntei sobre o preço do tule. Ele me informou que minha irmã, que mexe com produções de teatro, lhe informara que era uns R$2,00 o metro. Fiquei animadíssima e disse-lhe: “Entre na loja e veja se há cores bonitas, escolha umas 10 cores e compre 3 metros de cada uma delas.”

Dez minutos depois... “Taran, taran, taran...Taran, taran, taran...Chamada a cobrar. Para aceitá-la, continue na linha após a identificação! Pinhommm...” Atendi e fui dizendo: “Quais cores tem, filho?” e em resposta ouvi: “Tem umas 50 cores diferentes: roxo, laranja, verde limão, preto, marrom...” Pensei com meus botões: “Oh, menino sem noção! Vê se eu vou colocar essas cores nos “meus” bebês?!”, mas apenas consegui perguntar: “Sua tia está aí perto?” Ele me respondeu que ela estava em uma loja próxima e desligou.

Cinco minutos depois... “Taran, taran, taran...Taran, taran, taran...Chamada a cobrar. Para aceitá-la, continue na linha após a identificação! Pinhommm...” Era minha irmã e eu lhe disse: “Nanda, compre os tules para mim pensando que eles se destinam a enfeitar bebês. Olha, não adquira nem turquesa, nem salmão e nem dourado porque eu já tenho”.

Quinze minutos depois... “Taran, taran, taran...Taran, taran, taran...Chamada a cobrar. Para aceitá-la, continue na linha após a identificação! Pinhommm...”Escutei: “Norminha, comprei cores clarinhas e outros tons bem bacanas. Consegui a R$1,10 o metro porque o dono me conhece, vivo comprando coisas para o Teatro Municipal lá.” Quase pulei de alegria e pedi para ela comprar 03 metros de todas as cores, mas me contive e perguntei-lhe se ela poderia adquirir umas estolas chiques de plumas para mim. Informei-lhe as cores de que eu já disponho e recomendei que o preço teria de ser menor do que R$45,00 a unidade, pois esse era o preço que eu vira em BH em abril.

Dez minutos depois... “Taran, taran, taran...Taran, taran, taran...Chamada a cobrar. Para aceitá-la,continue na linha após a identificação! Pinhommm...” Ouvi: “Minha irmã, encontrei a R$15,00 a unidade, de uma qualidade legal. O preço está bom?”. Respondi-lhe que estava ótimo, informei as cores que eu queria e nos despedimos.

Dez minutos depois... ““Taran, taran, taran...Taran, taran, taran...Chamada a cobrar. Para aceitá-la, continue na linha após a identificação! Pinhommm...”Escutei: “Mãe, vou precisar comprar uma bolsa para levar os seus 30 metros de tule e as suas estolas, porque ficou tudo muito volumoso, tudo bem?”

Depois dessa ligação eu atendi a mais duas iguaizinhas: uma para ele me dizer que o vôo de volta fora transferido de Congonhas para Guarulhos e que a companhia não conseguira avisá-lo por causa do celular furtado. E a outra, para me informar que para embarcar ele teria de pagar uma diferença de R$200,00.

De lá para cá, toda vez que eu olho para a minha encomenda eu penso: “Oh, tulinho caro!!!”

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 18/10/2011
Reeditado em 23/03/2012
Código do texto: T3283786
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