Natal descendo o rio São Francisco

Não houve estrela cadente, embora na mansidão 
das águas a todo instante os reflexos dos raios 
iluminavam o barco.
Não apareceu Papai Noel, pois não havia endereço para atender as cartinhas.
Não houve troca de presentes, embora todos estivessem presentes.
A manhã azul da Noite de Natal, só mostrava o silencio.
Só o compasso do motor ritmado do vaporzinho, afugentando os medos, as garças e os animais ribeirinhos.
José de rosto ferido, queimado, roupas rotas e marcadas pelo vermelho do chão, encostado no parapeito do barco estava triste. Dentes cerrados. Cara ríspida.
O nenê seu filho, estava ali no colo daquela Maria.
Os seios vazando leite, manchando ainda mais aquele vestido de festa.
Não tinha boca para alimentar.
A criança febril, já não mamava. 
A respiração lenta e difícil, preocupava.
Não teve missa do galo embora levassem várias 
galinhas de pés amarrados, que seriam vendidas 
na próxima cidade para pagar os remédios.
Nessa noite que comemora-se o nascimento de uma criança, acabava ali a vida de uma criança nos braços 
daquela mãe.
Não havia castanhas. Não se brindava a vida.
Não houve Feliz Natal.

Augusto Servano Rodrigues
Enviado por Augusto Servano Rodrigues em 26/12/2006
Reeditado em 27/08/2007
Código do texto: T328360
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